"Muita coisa foi dita sobre elas ao longo dos anos, mas nunca encontramos uma resposta, nunca conseguimos montar o quebra-cabeça..."
Filme: As virgens suicidas (The virgin suicides)
Ano: 1999
Direção: Sofia Coppola
Elenco: James Woods, Kathleen Turner, Kirsten Dunst, Josh Hartnett, Danny DeVito
Gênero: Drama
• RESENHA
O filme conta a história de cinco irmãs cuja beleza e mistério captam a atenção de um grupo de garotos de um bairro em Michigan, que inevitavelmente acabam obcecados e apaixonados por elas.
The Virgin Suicides, do título original, é uma adaptação cinematográfica da obra literária que leva o mesmo nome. O filme de 1999, vem ao longo dos anos sendo aclamado de um clássico do cinema, principalmente, pela direção de Sofia Coppola; que traz uma evocação simbólica da melancolia, humanismo e sensibilidade dos personagens. Ao mesmo tempo em que a estética da filmografia de sua direção enchem os olhos do telespectador, trazendo obras emblemáticas, de uma sutileza encantadora.
Importante salientar que esse longa-metragem foi o debute da diretora no mundo do cinema.
Em relação ao enredo, o drama tem início com a narração de um dos garotos do bairro que na época era apaixonado por uma das irmãs Lisbon, agora, em seus quarenta anos. Logo, é como se uma caixinha de memórias de repente fosse aberta e ele nos levasse para a década de setenta, situada nos subúrbios de Detroit onde toda a história aconteceu, vinte anos atrás.
Beirando ao poético, a narração se desenrola, envolvendo cada vez mais o telespectador na trama.
Desde o começo as irmãs Lisbon são apresentadas como sendo garotas belas, recatadas e misteriosas, ficando claro a perspectiva de uma aura meio mística construída em torno dessas personagens. O lar onde moram e vivem não poderia se enquadrar mais nos moldes de uma típica família tradicional da classe média: uma mãe católica super devota à religião, e um pai cujo quem é professor de matemática na escola onde as filhas estudam. Entretanto, como nem tudo são rosas, as irmãs Lisbon têm uma educação rígida por parte dos pais, ao mesmo tempo em que são criadas de forma restritiva, não detendo muito de vida social fora de casa (rapunzeis cativas na torre forte, privadas do mundo exterior).
A história se concentra principalmente em dois acontecimentos de extremo significado que acabam sendo fundamentais para as engrenagens do desenvolvimento do drama; acontecimentos estes que são trágicos, impactantes e devastadores para todos.
• MINHAS IMPRESSÕES
Se pudesse resumir esse filme em uma única frase eu diria que: trata-se de uma experiência soturna durante 97 minutos que estranhamente assemelha-se a um sonho adolescente, composto fundamentalmente por uma nostalgia melancólica.
Apesar do título ser auto explicativo por si só, não nego que a cena inicial me pegou de surpresa; transcorrendo imagens suaves de uma vizinhança pacata… E então de repente, o narrador dizendo 'Cecília foi a primeira a partir', o que causou um sentimento de nebulosidade em mim. Yes, o filme se abre com a tentativa de suicídio de uma garota de treze anos.
A partir daí entramos em mais detalhes sobre a vida das irmãs. Somos apresentados à Cecília (13), Lux (14), Bonnie (15), Mary (16), e Therese (17). Nesse momento, lembro-me de ter pensado: que legal, tipo uma escadinha! Daí recordei a temática do drama e meu coração voltou a ficar pesado.
Eu não pude evitar. Tive vontade de conhecer mais de Cecília. E sabe? É irônico pensar que ela teve tão poucos minutos de tela, antes de seu fim trágico. Para mim, de todas as irmãs, a mais nova me pareceu ser a mais interessante de todas.
É um filme que nos deixa com um sentimento estranho. Do início ao fim, uma estranheza quase que onírica. Talvez tenha sido uma das intenções da produção. Pelo menos, eu me senti assim. Além do mais, é uma belíssima obra cinematográfica, destaque para a estética e filmografia do filme!
Outro destaque que super vale a citação: a trilha sonora. Não sei vocês, mas se um filme possui uma trilha sonora cuidadosamente selecionada e simbólica, isto o torna ainda mais charmoso, e este é o caso de 'As virgens suicidas'.
Um dos temas abordados aqui, senão um dos principais, é a forma como elas são criadas e educadas. Pais que prezam pela proteção exacerbada da prole, não tomando conta do fato do quanto essa superproteção pode ser sufocante e extremamente nociva. As cenas de Lux demonstram o quanto as restrições são inúteis, pois surtem efeito contrário. Na verdade serve de motivação para fazê-la ir aos encontros de sexo casual com garotos e até mesmo homens mais velhos que ela. É a típica história de que quanto mais se proíbe, mais o apelo e tentação para querer e fazer o errado; Lux e suas irmãs conhecem mais do que bem esse sentimento.
A sensação que me tomou enquanto eu observava os créditos finais rolarem, foi de que o grupo de irmãs me pareceu uma espécie de pequeno culto secreto. Esse pensamento me levou a ponderar se todas elas não fizeram um pacto entre si para tirarem a própria vida… porque foi o sentimento que ficou em mim depois do término do filme.
Cada uma teve suas motivações particulares, claro. Mas qual teria sido o fator geral para levar todas a morrerem dessa forma? Digo que, pelo filme, a restrição dos pais não ficou tão explícita ao ponto de pensarmos: Ok, eles são péssimos e cruéis, impossível de se conviver, eu também me mataria! (Talvez, no livro isso seja mais bem explicado e de fato fique claro o quão sufocantes eram os pais).
Porém, não é o caso, pelo menos não para mim. Se os realizadores do filme decidiram usar o respaldo dos pais rígidos, sorry, mas não colou comigo. A impressão que ficou alojada em mim é que houve alguma coisa e não nos foi revelado. Algo a mais deve ter acontecido para as levarem a esta decisão. O que poderia ter sido? Foi somente por causa do enclausuramento imposto pelos pais? Foram as desilusões amorosas?
Acredito que questões seguindo esse tipo de raciocínio sempre costumam surgir em situações trágicas assim. Perguntas que nunca serão respondidas… Por que? Qual foi a motivação?
Por fim, é um belo, estranho e trágico filme, narrado de uma maneira meio mística, onírica que de fato nos envolve, para então nos quebrar, mesmo que saibamos de como será o final.