Voo 370: o avião que desapareceu – documentário ou teoria da conspiração?

Não gosto de séries, mas esta minissérie em exibição na Netflix capturou-me. São só três episódios, bem objetivos, sem enrolação. Lançada recentemente, foi produzida pela britânica RAW TV. Trata do inexplicável desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines, que partiu de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, na China, com 239 pessoas a bordo. O enorme Boing 777 desapareceu dos radares e de todos os meios de comunicação nas primeiras horas do dia 08 de março de 2014, menos de uma hora depois de levantar voo. Bem quando se situava, na rota prevista, sobre o Mar do Sul da China, no limite entre os espaços aéreos da Malásia e Vietnam.

O documentário mostra bem todos os desdobramentos de um desaparecimento tão trágico e misterioso: a comoção, inconformismo e revolta das desorientadas famílias dos embarcados; as reticências das autoridades no trato com a catástrofe e os envolvidos; os dados contraditórios e as muitas teorias da conspiração para “explicar” o acontecido; os oportunistas de plantão em busca de prestígio e ganhos a qualquer custo... Revela-se o quanto nossa civilização atual é capaz de urdir a partir de um desastre aparentemente inexplicado.

As investigações oficiais duraram muito tempo. Em julho de 2018, mais de quatro anos após o desaparecimento, o relatório final declarou que as autoridades não tinham condições de afirmar as razões do desvio da rota do Boing 777 do voo MH370 em 2014, e que não podiam descartar a hipótese de possível interferência ilegal de terceiros. O relatório afirmou ainda que o avião tinha plenas condições de voo, e o piloto era competente e não mostrara nenhum sinal de estresse ou atitudes suspeitas.

O documentário foca as três principais hipóteses para o desaparecimento: uma insana atitude deliberada de um piloto transtornado; o sequestro por supostos agentes russos para criar um evento visando ofuscar a notícia de invasão da Criméia; e a interceptação do Boing 777. As três hipóteses são apresentadas com minúcias sobre os indícios a corroborá-las ou a contrariá-las. Mas o documentário, tal como o relatório final da investigação, é inconclusivo.

O que mais intriga no documentário é que ele mesmo parece fornecer a quem o vê evidências que, ao final, restam como pontas desatadas. Talvez com a intenção de deixar aberta a possibilidade que cada expectador una as pontas a seu critério, e encontre uma hipótese, ou uma teoria da conspiração, pessoal para a inexplicável tragédia. Por exemplo: os motivos do deslocamento da área de busca dos destroços para a erma lonjura do sul do Oceano Índico, ao invés da área do último contato com o avião; a menção ao abate de outro Boing da Malaysia Airlines sobre os céus da Ucrânia só quatro meses após a tragédia do MH370; a menção ao abate do voo KAL007 da Korean Airlines em 1983 pelos soviéticos, quando sobrevoava bases militares em território russo; o desprezo ao anúncio de indícios da descoberta de destroços na área próxima ao último contato do Boing 777 do voo MH370, no Mar do Sul da China; a possível existência de dois aviões radares AWAC dos EUA no instante e local do misterioso desaparecimento...

São muitas incoerências. A verdade desta tragédia poderá, um dia, revelar como agem os interesses de hegemonia do poder no mundo atual.