Série "Ginny e Georgia"
Ginny e Georgia é a princípio uma série adolescente e leve. Mas na segunda temporada podemos identificar várias problemáticas. Olhando a série com um olhar mais apurado, percebemos a adolescência e todas suas problematizações: Ginny, que é por muitos julgada como a "insuportável" da série, é uma adolescente negra, criada por uma mãe branca que nunca vai entender as marcas do racismo. Mãe essa que por vezes age como a própria adolescente, sendo assim, sua filha assume um papel de responsável, de cuidadora e ditadora de moral. Papel esse que não caberia a ela, mas é o que lhe resta diante de suas vivências, o que a torna cansativa e "problemática". Por outro lado, Geórgia apenas reproduz o modo como aprendeu a sobreviver: teve que ser forte, custe o que custar, diante de todas as situações de abuso e violência que sofreu. Em uma de suas falas, diz "eu tive que engolir todo aquele mal, para me tornar o próprio mal". O que demonstra a importância de elaborar e ressignificar as vivências dolorosas da vida, pois aquilo que não elaboramos estamos fadados a repetir. A série aborda ainda inúmeros fatores como autoflagelo, depressão, problemas familiares e põe em cheque o que é ser bom ou mal. Até que ponto ferir o outro para se defender é válido? Seria o "olho por olho, dente por dente" a melhor forma de sobreviver? O quanto o comportamento dos pais impacta diretamente na vida dos filhos? É necessário assisti-la com um olhar crítico, sem julgar as duas mulheres principais, mas sim buscando entender a forma como aprenderam a sobreviver no mundo, por vezes tão cruel, injusto e onde parece só haver espaço para aqueles que não aparentam ter os monstros internos que sim, é típico de todos nós.