Filme "Uma garota de muita sorte"

"Uma garota de muita sorte" não é um filme fácil de se ver, ou ao menos de se escrever sobre. Isso porque é difícil acompanhar a trajetória da protagonista e pensar na extrema força que a mesma precisou desenvolver para encontrar meios de lidar com a imensa dor dos acontecimentos de sua vida. É um filme que desperta, por muitas vezes, angústia. Angústia por nos depararmos com uma realidade de como a sociedade tenta silenciar mulheres, angústia por ver um algoz ser aplaudido porque passa confiança, angústia por ver uma mãe tratar uma filha como "um trapo velho" devido a mesma ter sofrido abuso sexual, julga-la como se os acontecimentos que ocorreram foram somente porque a filha não seguiu regras. Apesar de todos os gatilhos, é um drama que mostra o quanto falar sobre a dor nos transforma, o quanto é importante lutarmos pelo nosso espaço e nossa voz e nos abdicarmos de tudo aquilo que distrai nossos objetivos e nos domestifica. Seria confortável para a protagonista continuar na vida perfeita que tanto almejou em busca de esconder a dor, mas foi somente rompendo suas próprias barreiras que ela iniciou um processo de ressignificação. "A dor só se torna útil quando é consciente, o que eu não consigo olhar de frente eu não consigo transformar." Foi somente encarando a dor e se reconhecendo como vítima, que Ani conseguiu se libertar de tudo aquilo que contribuia para o silenciamento não só de sua voz, como também de sua alma.

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