Walt Disney e Alice

 

WALT DISNEY E ALICE

Miguel Carqueija

 

Resenha do filme “Alice’s Wonderland” (Alice no País das Maravilhas). Laugh-O-Gram, EUA, 1923. Produção, cenário e direção: Walt Disney. Fotografia: Ub Iwerks e Rudolf Ising. Co-diretor: Ub Iwerks. Direção técnica: Hugh Harman e Carman Maxwell. Roteiro: Walt Disney, Hugh Harman e Rudolf Ising. Com Walt Disney, Virginia Davis, Margaret Davis, Ub Iwerks, Rudolf Ising e Hugh Harman. Animação: Hugh Harman, Rudolf Ising, Ub Iwerks, Carman Maxwell e I. Freleng. Preto-e-branco, 12 minutos e 29 segundos.

 

Talvez não seja muito conhecido o fato de que Walt Disney era também ator. Em adolescente, antes de se iniciar no cinema, imitou Carlitos em espetáculos teatrais e muitos anos depois, no programa de tv “Disneylândia”, costumava fazer encenações. Isso além de ter sido aquela voz de falsete do Mickey.

 

Ao realizar o episódio-piloto do que seria a série “Alice’s Comedys”, em 1923, ele inovou notavelmente, mostrando uma grande interação entre o desenho animado e a ação viva. Primeiramente a menina Alice — na primeira adaptação disneyana da obra de Lewis Carrol — adentra o modesto estúdio Laugh-O-Gram (risos em gramas), de Kansas City, onde o então muito jovem Walt chefiava uma equipe de desenhistas. Disney, que era então bastante magro (dizem até que ele não se alimentava direito, por falta de recursos) ciceroneia Alice (interpretada pela menina Virginia Davis, que teria só quatro anos) e mostra a ela figuras animadas movendo-se fora da tela (um truque de superposição). Depois Alice aparece com sua mãe (Margaret Davis, provavelmente a mãe na vida real, por causa do sobrenome), sonha, é recebida com gala na terra da fantasia por grande número de animais que a homenageiam. Todavia quatro leões resolvem persegui-la e a situação se complica.

 

Afirma-se que ninguém fazia, no cinema de animação, o que Walt Disney já promovia na década de 1920 quando ele inseriu a pessoa real — no caso Virginia Davis — no cenário de animação, e não o contrário (uma figura animada no mundo real), que era o que se fazia.

Achei estranho o detalhe do nome do animador Ubbe Iwwerks, depois conhecido até hoje como Ub Iwerks, ou seja, grafia mais simples, ele que esteve quase a vida inteira trabalhando com Walt Disney.

“Alice’s Wonderland” é um monumento da criatividade disneyana. Depois da série dos anos 20, Walt Disney retornaria à personagem de Lewis Carrol na obra-prima em longa-metragem de 1951, “Alice no País das Maravilhas”.

 

Rio de Janeiro, 25 de julho de 2022.