"Vinicius", um documentário sobre o poeta que tanto cantou o amor
Terezinha Pereira
Marcus Vinicius da Cruz de Melo Moraes nasceu no Rio de Janeiro, em 1913, onde viveu grande parte de sua vida, meio a muita música e literatura. Além de estar fora do país por algum tempo, Los Angeles, Paris, Montevidéu, quando exerceu funções de diplomata, Vinicius morou por um tempo em Salvador/BA, onde encontrou, sob o sol de Itapoã, um adicional alento para a sua poesia escrita ou cantada nos ritmos da música popular do Brasil.
Desde o início de sua carreira iluminada de poesia, Vinicius de Moraes apreciava a companhia de grandes poetas como Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Começou escrevendo uma poesia contemplativa e aos poucos passou a usar uma construção mais popular, que caiu no gosto do povo e acabou desagradando aos críticos da época que o chamavam de “Poetinha”. Um Poetinha até hoje conhecido, contado e cantado pelo mundo inteiro, 25 anos após a sua morte. Um poeta, que no decorrer de sua vida inteira, esteve junto de gente que escrevia, que fazia cinema, que fazia teatro, que fazia música. Um autor de letras de música que foi parceiro musical de diversos autores como Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim. Edu Lobo, Carlos Lyra, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto e muitos outros que lidam com a arte da palavra, da música.
Se me perguntassem qual era a matéria da poesia de Vinicius, diria que era o amor. Amor pela vida, pela literatura, pela música, pelo sensual, pela mulher_que tantas ele teve, pela boemia, pela liberdade, pela paz. (Manoel Bandeira dizia que Vinicius era um ser plural, plural até no nome.) Responderia eu que o olhar, olhar que evoca paixão, amor, alegria, paz e, às vezes, tristeza, desilusão no amor, também era matéria de sua poesia: “Não há nada que conforte / a falta dos olhos teus”; “Oh, minha amada / que os olhos teus // são canais noturnos / cheios de adeus / são docas mansas/ trilhando luzes/ que brilham longe/ longe dos breus//” . Poderia também responder que as coisas do dia-a-dia também eram matéria da poesia de Vinicius: // Olha que coisa mais linda / Mais cheia de graça / É ela menina, que vem e que passa / Num doce balanço, a caminho do mar. / Moça do corpo dourado, Do sol de Ipanema, O seu balançado é mais que um poema, / É a coisa mais linda que já vi passar.// É lendo, é ouvindo para crer........ e sonhar e amar e mais viver. E assistindo “Vinicius”.
“Chega de Saudade”, não é, gente?_ Quem quiser trazer à memória toda a pluraridade artística de Vinicius, pode ver o documentário, “Vinicius”, dirigido por Miguel Faria Júnior e co-produzido por sua filha Susana de Moraes e com uma fotografia esplêndida de Lauro Escorel.. É um filme chamado de documentário, por ter o valor de um documento, mas que acaba sendo visto como uma história de vida, iluminada pelos versos declamados por Camila Morgado e Ricardo Blat ou cantados pelo próprio diplomata poeta, como também por Chico Buarque, Caetano, Adriana Calcanhoto, Mariana de Moraes, sua neta e muitos outros e abalizado por nomes conhecidos e respeitados da literatura e da música, que fazem depoimentos e confirmam o grande valor de sua obra, como Ferreira Gullar, tido como o maior poeta brasileiro ainda vivo. Tônia Carrero, uma grande dama do teatro e Antônio Cândido, um dos mais respeitados críticos literários da atualidade. Afinal, Vinicius, um dos instauradores da bossa-nova, deixou um legado de cerca de 400 poemas, juntados em 12 livros e cerca de 400 letras de música.
Vendo “Vinicius” o espectador-leitor se extasia com os depoimentos que falam de sua vida, seus amores, seus vícios, com as músicas e com a sua poética: “//De manhã escureço / de dia tardo / de tarde anoiteço / de noite ardo.//” Ou então: “//Eu possa lhe dizer do amor(que tive: / que não seja imortal, posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure //”. Este, do tanto que viu e sentiu, sai do cinema, arrebatado, com vontade de dançar, de cantar, com a emoção a dominar a alma e com vontade de tornar a entrar e ver de novo a história do homem que cantou o amor.