Thriller "A colônia" – horror ou revelador?

O filme "A colônia" (direção de Jeff Renfroe, Alemanha, Suíça, 2013) chega a parecer uma daquelas produções feitas para horrorizar, com frenéticos zumbis caçando sobreviventes humanos de um apocalipse que conduziu a Terra a transformar-se numa bola de gelo. Mas trata-se de muito mais que um entretenimento assustador. E o horror, no caso, deveria alertar-nos para traços que a humanidade sempre tem mostrado, mas que ainda relutamos ver e entender.

A colônia do título é um reduto de sobreviventes em um abrigo subterrâneo num mundo congelado. Entre eles prevalece certo regramento, que é contestado, e descumprido, por alguns poucos mas violentos indivíduos, que demonstram ter gosto pelo mando e pela morte. No rádio, a colônia recebe um pedido de socorro de outro abrigo. Uma equipe desloca-se pela superfície gelada para atender ao chamado. Deparam-se então com um bando de seres que, pela selvageria, parecem zumbis, alucinados, assassinos, canibais. Mas não são zumbis: são seres desumanizados pela ausência do “contrato social” e das regras de convivência, colapsados com o congelamento do planeta e a primordial necessidade de sobreviver.

O filme não revela como foi, mas o bando assassino parece resultar do ajuntamento dos mais violentos e desumanos dentre os sobreviventes da grande tragédia global. São animalizados, ensandecidos, ferozes, sanguinários, só lhes ocorre atacar, destruir e devorar os estranhos ao bando. Mal lhes resta alguma linguagem falada, têm os dentes serrados em presas pontiagudas, sua linguagem é a demência do semblante e a violência dos atos.

Num certo momento, um dos ainda humanos membros da equipe de resgate confronta o líder do bando invasor, e pergunta-lhe o que ele deseja. Ao que escuta em resposta: “─ Quero mais!”. Talvez este seja o instante mais agudo e significativo do filme. Que “mais” é esse que é o objeto da obstinação selvagem do bando canibal?

Podemos então comparar a ficção do filme com a realidade. Hoje, quantos seres humanos podemos identificar com aqueles personagens que mal se submetem ao regramento na colônia, mal conseguem conter o ímpeto de mando e de morte? Quantos deste nosso tempo não são movidos por compulsiva necessidade de ter mais? Mais riqueza, mais poder, mais glória, mais prestígio, mais opulência, mais ostentação, mais insolência... E quantos de nós, hoje contidos pelas regras sociais, não nos transformaríamos em bestas assassinas, caso viesse a ocorrer um apocalipse?

Na realidade, parecemos estar vivendo uma época em que querer mais, sempre mais, em prejuízo dos direitos e necessidades do outro, é uma característica aceita e valorizada em nossa sociedade. Somos educados para competir e vencer, e não para colaborar e conviver.

A continuar assim, talvez nem seja necessária uma catástrofe apocalíptica para despertar em nós os zumbis canibais que ainda restam da herança genética de nossos selvagens ancestrais.