Harry Potter e o Cálice de Fogo

HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO

Miguel Carqueija

 

Eu já gostei mais de Harry Potter. Com certeza os livros (li os dois primeiros) são muito bem escritos e os filmes são bastante artísticos, com cenas muito bem armadas. Também passa valores morais como amizade, lealdade, dever, coragem. Todavia eu já não vejo como obra para crianças e sim para adultos de cabeça feita.

Vejam bem: a base da história é a bruxaria. Mesmo sendo Harry Potter, Hermione Granger e Ronny Weasley bruxinhos do bem, combatendo bruxos maus como Voldemort (o “você-sabe-quem”), o fato é que tudo se resolve pela bruxaria. A religião e a ciência estão fora.

Então ninguém reza, ninguém fala em Deus, ninguém vai à igreja, aliás não há igrejas no mundo paralelo. Há vida após a morte, mas na forma de fantasmas, como a “Murta que geme”, uma garota morta pelo olhar do basilisco, e que habita nos banheiros de Hogwarts.

Mas neste episódio do “cálice de fogo”, que escolhe os participantes do tal “Torneio Tribuxo”, o que causa espécie mesmo é a escuridão. A impressão que a gente tem é que os produtores quiseram economizar na conta de luz. Entretanto é até difícil entender o que acontece na trama, visto que a gente não enxerga. O mundo de Harry Potter é escuro, sombrio, sinistro, os personagens sendo bons ou maus movem-se nas sombras, vestem trajes escuros e solenes.

Além disso é evidente a crueldade do sistema, quando se vê que na prova de mergulho num mar repleto de seres malignos (como sereias e polvos) os concorrentes têm de resgatar pessoas aprisionadas lá embaixo, pessoas que poderiam morrer. Assim, até Hermione e Ronny foram lançados no fundo do mar (não entendi bem o truque mágico para não morrerem afogados). Ora, Hermione mesma, preocupada com a segurança de Harry, comenta com ele dos métodos brutais e até cruéis utilizados no sistema.

E reparem que o reitor de Hogwarts, Alvo Dumbledore, considerado embora um bruxo bondoso, era conivente com aquelas coisas.

Aliás nada se estuda em Hogwarts que não seja a bruxaria.

Sem dúvida a melhor cena deste quarto episódio é o abraço aflito de Hermione em Harry Potter — uma cena que impressiona. Aliás Emma Watson é uma perfeita Hermione Granger. Os artistas em geral são muito bons. Alan Rickman transmite a secura e mau humor de Severo Snape. É um ator excelente. Daniel Radcliffe e Rupert Grint também são intérpretes ótimos. E o cinema inglês costuma ser superior ao de Hollywood, hoje entregue ao deboche.

 

“Harry Potter and the goblet of fire” – Inglaterra, Heyday Filmes e Warner Bros, 2005. Criação e supervisão: Johanna Rowling. Produção executiva: David Barrow e Tanya Seghatchian. Produção: David Heyman. Direção: Mike Newell. Roteiro: Steve Kloves. Música: Patrick Doyle. Fotografia: Roger Pratt.

 

Elenco:

Harry Potter......................Daniel Radcliffe

Hermione Granger............Emma Watson

Ronny Weasley.................Rupert Grint

Cedrico Diggory.................Robert Pattinson

Lord Voldemort................. Ralph Fiennes

Alvo Dumbledore...............Michael Gambon

Draco Malfoy......................Tom Felton

Severo Snape......................Alan Rickman

Alastor Moody....................Brendan Gleeson

Minerva McGonagall.............Maggie Smith

Sirius Black.............................Gary Oldman

 

Rio de Janeiro, 10 de março de 2022.

 

Cena antológica: visitando Harry Potter sem entrar no aposento, Hermione procura lhe dar coragem. Mas quando ele lembra de que terá de matar o dragão (primeira prova) ela entra e o abraça com toda a força possível.