Billy Summers!
Quando o assunto é Stephen King, não poderia ser de outro modo: a mente logo remete a pavorosas tramas de terror, apesar do ínclito autor norte-americano já ter flertado com outros gêneros como histórias policiais e até romances. Billy Summers não se enquadra necessariamente nessas características, embora em alguns momentos as evoque, despontando muito mais como um thriller acerbo e totalmente ausente de previsibilidade.
A trama é simples e até certo ponto clichê: Summers é destemido, um assassino de aluguel que levanta as armas contra pessoas ruins. É chegada a hora do ex-atirador de elite realizar um último trabalho e para isso o veterano de guerra precisa se acomodar em uma cidade interiorana, assumindo a identidade de um escritor tentando transcender um bloqueio criativo.
Além de não figurar como uma obra de terror, Billy Summers não se exime em preterir até os rotineiros acontecimentos sobrenaturais. Se o enredo não é lá muito fecundo, a mostra de inventabilidade irrompe durante o desenrolar da história, fazendo valer notáveis recursos narrativos, um verdadeiro “livro sobre livros”, afinal um impiedoso e calculista atirador também pode, na busca por remissão, assumir a condição de um escritor introspectivo e repleto de agruras, travando árdua batalha contra os piores demônios interiores para expor sua história.
Um dos aspectos que ajuda o livro a praticamente adquirir vida própria são os personagens bem delineados, estabelecendo relação verdadeira com o leitor, até permitindo-o mirar os lados mais soturnos e recônditos da mente. O desfecho também acaba sendo avassalador, alvejante, afinal Billy Summers não é uma história sobre superação, muito longe disso, mas não declina à possibilidade de mostrar o quanto a imaginação, aliada a um pedaço de papel (ou uma tela de computador), pode atenuar a realidade brutal... pelo menos por alguns instantes!