OS COSMONAUTAS, comédia brasileira

OS COSMONAUTAS, comédia brasileira

Miguel Carqueija

 

No dia 10 de fevereiro de 2022 a TV Brasil exibiu a comédia brasileira “Os cosmonautas”, com certeza uma das últimas chanchadas tradicionais; eu, que nunca assisti, resolvi assistir por nostalgia, relembrando os velhos tempos em que com a família ia ao cinema e dessa forma conheci vários filmes nacionais estrelados por comediantes da época como Oscarito, Grande Otelo e Ronald Golias.

As chanchadas eram oportunistas, como se vê por “O homem do sputnick”, de 1959, e “O homem que roubou a Copa do Mundo”, de 1061. “Os cosmonautas”, que segue a fórmula habitual de Herbert Richers, ancorada na popularidade dos comediantes, é tão ruim que chega a ser boa. Ou seja, diverte, mas é impossível engolir o argumento, de tão absurdo.

Imaginem o Brasil emergir como potência espacial, construindo até foguetes que podem ir até a Lua. Nesse contexto, em que tudo é dirigido por um único homem, o Professor Inácio, este decide que a viagem à Lua terá dois tripulantes, que deverão ser indivíduos imprestáveis e que não fazem falta à sociedade. Para piorar o mesmo Professor Inácio inventou uma “bomba de cobalto” que põe em perigo a paz mundial —a ponto de preocupar líderes mundiais. Aparecem de costas, telefonando diante de suas escrivaninhas, supostamente (claro) João Goulart, John Kennedy, Nikita Khrushev e Fidel Castro — este último divertindo-se, através da janela, com seu “paredón” para fuzilamento de dissidentes.

A alienígena misteriosa Criridis (Neide Aparecida, uma mulher muito bonita), com seus poderes especiais, podendo aparecer e desaparecer, busca conscientizar o astronauta Gagarino, referência óbvia ao russo Gagarin.

Golias costumava fazer o papel de sujeito lesado, enquanto Grande Otelo, como auxiliar do inventor, mostra ser comediante mais seguro com seu jeito taxativo.

Curiosamente um filme de Walt Disney de 1961, “Moon pilot”, também mostrava um astronauta às voltas com uma misteriosa alienígena vinda de outro sistema. Entretanto, não deve ter havido imitação: o tempo entre uma produção e outra é muito pequeno.

Uma curiosidade que, apesar da tosquice de cenários, personagens e argumento, interessa de sobra a quem conheceu aquele tempo, pela carga de nostalgia. Em relação às modernas películas, ressalte-se a inocência daquelas fitas antigas.

 

Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 2022.

 

"Os cosmonautas" - Brasil, 1962. Produção: Herbert Richers. Direção e roteiro: Victor Lima. Música: Remo Usai. Desenhos da abertura: Ziraldo. Elenco: Grande Otelo (Zenóbio), Ronald Golias (Gagarino), Neide Aparecida (Crinidis), Álvaro Aguiar (Professor Inácio), Telma Elita (Alice), Carlos Tovar (Deputado Veloso), Zeca (Átila Iório), Wilson Grey (Otávio), César Ladeira.