O RESGATE DO ENCANTO
FILME: TICK, TICK... BOOM!
DIREÇÃO: LIN-MANUEL MIRANDA
ELENCO: ANDREW GARFIELD, ALEXANDRA SHIPP, ROBIN DE JESÚS
GÊNERO: DRAMA, MUSICAL
EXIBIÇÃO: NETFLIX
Confesso que La La Land: Cantando As Estações não me encantou. Sei que não sou bom com os musicais. Gosto de música, mas artisticamente meus ouvidos não são tão aguçados.
Mas Tick, Tick... Boom! é aquele tapa na cara de quem anda desencantado com musicais. É como um agrupamento policial que te resgata da desesperança de um cativeiro.
O filme nos coloca dentro do universo árido da arte. Jonathan Larson é a síntese de tantos que ainda estão como insetos em volta da lâmpada chamada sucesso. Batalhar em sua obra enquanto se precisa de um emprego e conviver com a incompreensão, com a necessidade de outras pessoas como a namorada e ainda ter seu melhor amigo mudando de vida por causa de um emprego fora da arte, faz com que todo artista em desenvolvimento sinta-se projetado no personagem desta cinebiografia.
Um escritor tem em suas gavetas, ou “nuvens”, os melhores escritos da sua vida, o compositor a melhor música, o roteirista o próximo ganhador do Oscar e nada acontece quando o relógio toca e ele precisa ir para o trabalho enfadonho de sempre. Mas é preciso persistência. A agente de Larson, Rosa Stevens, interpretada por Judith Light, pareceu-me a princípio um obstáculo na carreira do Jovem artista, mas depois da apresentação para os produtores. O seu musical superbia não interessou para a Broadway, ela, perdão pelo trocadilho, lança luzes sobre a carreira do garçon de uma lanchonete. É como se dissesse que o hambúrguer não ficou bom, faça outro, outro e mais outro, até acertar. Então vamos saborear o melhor que você pode fazer.
— O que deve fazer agora?
—Comece a escrever o próximo. E quando você terminar, comece o seguinte. E assim por diante.
E assim tivemos os próximos que foi o musical que deu nome ao filme. E Rent veio como musical dos musicais de Larson. Infelizmente ele não viu seu sucesso. O Boom aconteceu para ele, fisicamente, aos 35 anos de idade. O nosso biografado tinha Síndrome de Marfan, que deixa o organismo com falta de fibrilina. Pensaram que era estresse, só na autopsia que revelou a verdadeira causa da sua morte.
Superbia, o musical que levou oito anos para ser escrito, foi inspirada nas obras de Orson Welles. A gente precisa começar com algo, assim como estou começando a Coleção de resenhas de cinema ANGULAR DO INTERIOR com essas notas sobre o musical que me encantou há duas semanas.
O ator Andrew Garfield interpretou toda a dedicação e apreensão de Jonathan Larson na sua curta trajetória. Ele também interpretou o brasileiro Eduardo Saverin no filme que retrata o início das redes sociais.
Outro fato preponderante no filme é o drama dos jovens soropositivos no início dos anos 90. Época que perdemos Cazuza, Renato Russo e Freddie Mercury, entre outros. Na véspera da sua apresentação para produtores, Larson se sente na obrigação de visitar um amigo no hospital. Depois de melhor amigo, com quem dividiu apartamento por um bom tempo, Michel também contraiu HIV e está com os dias contados. A metáfora da bomba relógio agora vale muito mais para ele que para Larson.
Mas vida de todo artista termina quando depara com a impossibilidade de continuar produzindo. Assim é que morre seus sonhos, seus projetos e tudo que produziu, mas não foi revelado. Todo mundo envolvido no mundo das artes deveria assistir o filme.