Doidas e Santas (BRA, 2016)
Ao assistir ao filme, baseado no livro homônimo de Martha Medeiros, a primeira ideia que me veio foi de que deveriam trocar os papéis: Maria Paula, que fez a protagonista Beatriz, deveria fazer a vizinha Valéria; e Flávia Alessandra, que fez a vizinha, deveria ter feito a protagonista. Isso porque a grandalhice de Maria Paula parece destoar em alguns momentos e, embora Flávia Alessandra seja aquela maravilhosa branca e loura, há nela uma brejeirice com a qual muitas brasileiras se identificam.
Contudo, descubro que só é preciso ser mulher para se identificar com a mensagem. A beleza sui generis de Maria Paula, gostosa de ver na tela, nos lembra que nós mulheres temos múltiplas belezas, podemos e devemos explorá-las. E seu talento cumpre bem a metáfora da história. Ainda que seja a história de uma psicanalista e escritora bem-sucedida, retratada em um ambiente de classe média na Cidade Maravilhosa, a metáfora é comum a muitas de nós: quão paz estamos com nós mesmas?
A partir dessa premissa, e estando preparada para isso, Beatriz começa a quebrar as paredes que a encarceravam em uma personagem bem-sucedida em todos os âmbitos de sua vida, modelo ilusório socialmente construído de felicidade.
A primeira parede a ser quebrada é a do casamento, de onde surgirá a primeira questão a vivenciar: Será que nós mulheres podemos ser felizes sem um parceiro ao lado? Ou será que é melhor manter um casamento mesmo sem um cônjuge ser parceiro?
Doidas e Santas levemente nos lembra um jargão popular, gentilmente adoçado pelo poeta Roberto Frejat no verso: “Uma princesa na mesa / Uma fera na cama”. Isso é, nos lembra que sempre esperam de nós um comportamento pré-estabelecido, que cumpramos papéis bem-definidos, e muito bem. E geralmente conseguimos, mas a que preço?
No filme, vemos Beatriz cercada de outras mulheres: a mãe desfrutando da melhor idade (nossa queridíssima Nicete Bruno, mais fofa que nunca), de quem se esmera em cuidar; a filha adolescente rebelde buscando seu lugar no mundo, e em sua atenção; a irmã espiritualista, seu completo oposto; a vizinha amiga, que acompanha seu despertar... São todas facetas de si mesma, são todas partes de nós, que se encaixam e desencaixam... Porque todas nós somos exatamente iguais, humanas, e completamente diferentes.
Doidas e Santas não é um filme para nos fazer pensar, embora faça. É uma comédia, é uma vida em paisagens para admirar. E ver homens chamando mulheres de “louca” e se identificar. É ver a peculiar fraqueza dos homens exposta ao olhar em seus olhos e dizer entre lágrimas: Eu quero mais, eu quero muito mais.
Com leveza e humor, transmite sua mensagem: ter uma vida melhor é uma decisão.