"Rua da Paz", de Charles Chaplin
Resenha do filme de curta-metragem (19 minutos, preto-e-branco) "Easy Street" (Rua da Paz). Mutual Film Corporation, Estados Unidos, 1917. Produção, direção e roteiro: Charles Chaplin. Co-produtor: Henry P. caulfield. Co-roteiristas: Maverick Terrell e Vincent P. Bryan. Com Charles Chaplin, Edna Purviance, Eric Campbell, Albert Austin, Erich von Stroheim.
Comédia de visão social contada em ritmo por vezes vertiginoso e de forma exageradamente burlesca, como aliás fazia parte do cinema mudo, onde a superinterpretação (exagero nos gestos) procurava compensar a falta de sons e falas.
"Easy Street" pode-se traduzir não como "Rua da Paz" mas como "Rua Fácil", para contrastar com sua turbulenta realidade.
Chaplin é mais uma vez Carlitos, personagem criado por ele em 1914, seu primeiro ano no cinema, e já perfeitamente consagrado na fase da Mutual. Desta vez o Vagabundo é atraído pelo culto num templo protestante e centro de ajuda social e fica fascinado pela missionária e pianista (Edna Purviance) e aceita a Palavra de Deus, e a ponderação do pastor. Agora convertido, procura um emprego e acaba aceitando uma vaga de policial e é enviado para a problemática Rua da Paz, onde o povo vive em surriadas homéricas e o principal valentão, interpretado pelo corpulento ator Eric Campbell (que aparece em diversas comédias chaplinianas), é um sujeito que mete medo até na polícia e tem a cabeça tão dura que nem sente um cassetete.
Carlitos, enviado às feras, dispõe de poucos recursos para enfrentar uma situação dessas mesmo assim dá um jeito de encarar o rufião num duelo extraordinário entre a força bruta e a agilidade, entre a brutalidade e a esperteza. E mais não digo para não estragar o prazer de quem ainda não viu.
É interessante como Chaplin valoriza a religião nesta obra que embora patusca expõe uma mensagem otimista de redenção da sociedade.
Rio de Janeiro, 2 de novembro de 2021 (Finados).