Missa da Meia Noite - Sobrenatural e Fundamentalismo religioso
Mike Flanagan se destacou por ter conseguido criar um trabalho autoral dentro na netflix desde Hush. De la pra ca, o diretor e roteirista usou a liberdade criativa que a plataforma lhe deu para ir crescendo enquanto autor e tornando sua obra de gênero cada vez mais complexa e profunda. Se Hush era um despretensioso thriller, A Maldicao da Residencia Hill e Jogo Perigoso ja abordavam temas como disfuncionalidade familiar e traumas de infancia. Em Missa da Meia Noite, o criador da mais um passo nessa busca por densidade, voltando a sua atencão ao fundamentalismo religioso e ao debate metafisico sobre a dicotomia vida/morte.
Escrita durante a era Trump e a ascencão da extrema direita no mundo ocidental, a série usa o fanatismo religioso como desculpa para abordar xenofobia, autoritarismo, e como esse pode seduzir uma sociedade fragilizada economicamente, representada na obra pela populacão de uma pequena ilha.
Os elementos sobrenaturais são usados como gancho para aprofundar o discurso do autor, porém, em nenhum momento. a obra perde valor como gênero, trazendo sequências legitimamente macabras e algumas ate antológicas.
Talvez o único cineasta da nova geracão que consegue abordar o horror de forma tão complexa quanto Flanagan seja Robert Eggers que trouxe ao mundo a obra prima A Bruxa e o instigante O Farol. Jordan Peele também traz a mesma proposta, e foi muito bem sucedido em Corra!, porém seu segundo filme Nós, traz muitos problemas de roteiro. Portanto, acho que até o momento, Flanagan e Eggers foram mais bem sucedidos. Não é fácil equilibrar gênero e densidade temática como esses cineastas fazem.