As Verdades Inconvenientes
O filme brasileiro do History Channel “A Verdade da Mentira” é praticamente um pedido de socorro de jornalistas e checadores de noticias fazendo cara de perseguidores da verdade. Se for a qualquer preço, dá até para acreditar.
Tatuagens, cortes de cabelo, gestos, vestuário e um vocabulário muito específico formatam determinado arquétipo. Baseado na linguagem verbal e não verbal, é fácil identificar que cartilha segue cegamente e a qual grupinho o personagem em questão é obrigado a dizer amém. No filme, há um desfile desses tipinhos.
Para essa galera tudo é Fake news (notícias falsas). Palavras e expressões em inglês são usadas sem seu real significado, justamente para carimbar qualquer coisa indesejada. Por isso vemos o que não é notícia ser chamado de “fake news”. A velha fofoca ganhou o status de fake news. Mentira acaba sendo tudo o que não querem ouvir.
Quando a palavra “democracia” é usada, fique atento. E o termo é acionado ad nauseam no filme. Jornalistas são pessoas comuns: ganham pouco, mas precisam pagar boletos e fazer compras no supermercado. Se der tempo, eles dizem a verdade. Os fact checkers (checadores de notícias) selecionam o que pode ser considerado verdade e o que, necessariamente, deve ser rotulado de mentira, assim como as publicações que precisam, urgentemente, ser estigmatizadas como propagadoras de, como sempre, fake news.
Estrelando o filme, Lupa e Aos Fatos são as empresas supostamente vigilantes da verdade. Essas agências de checagem só diferem do Sleeping Giants (perseguem financeiramente, atacam o patrocínio) no método, o objetivo é o mesmo. Também alegam independência, mas não é o que parece, pois não apontam as mentiras da grande imprensa, parecendo até uma reação à concorrência, disfarçada de algo bom, que mantém a democracia.
Jornais e revistas vendem cada vez menos e a televisão tem cada vez menos audiência. A indústria fonográfica tentou parar o trem da história. Vendo que a luta era inglória, deixou o Spotify e o Deezer, por exemplo, reorganizarem o mercado. Com a indústria do cinema foi parecido, hoje o streaming (Netflix, Amazon etc) chegou quase despercebido e as locadoras se tornaram algo vintage. Televisão, revistas e, principalmente, o jornalismo precisam se reinventar.
O jornalismo está estranho, também, porque as faculdades querem formar “agentes de transformação social”. Se dependêssemos do jornalismo tradicional, não veríamos Ciro Gomes bêbado, falando palavrão e agindo como o “Coroné de Sobral” nem Lula confessando suas verdades inconvenientes. A Verdade é: não precisamos de ninguém para selecionar o que podemos ver ou não, muito menos para nos censurar.
Querer publicar e proibir a publicação de acordo com ideologias e participação no mercado, revela um viés autoritário. Como toda sanha autoritária, essa vem recheada de eufemismos, expressões destituídas do real significado e suposta benevolência, por exemplo: fake news.