Professor Polvo
O filme legalzinho mostra um pouco do motivo do desinteresse pelo Oscar. Grande culpa no desgaste da cerimônia está na “lacração”, nos enfadonhos e falsos discursos pretensamente politicamente corretos e na obrigatoriedade de abordar temas sociais, causando o engessamento na criatividade. Essa obrigação gera um falso engajamento, emprestando uma suposta virtude ao vício. É a velha hipocrisia.
O documentário vencedor é bom. Trata-se da história de vida de um polvo e a transformação na vida de um mergulhador. O título (Professor Polvo) é inspirado nos ensinamentos tirados da existência e interação do animal com o mergulhador.
O documentário usa e abusa da técnica manjada dos programas sonolentos de “vida animal”: edição perfeita para construir uma história com começo, meio e fim. Foi assim que conseguiram apresentar um polvo alegre, triste, solitário, doente, regenerado, de saco cheio, pronto pra outra e morrendo. O segredo do filme está, com o indispensável auxílio da trilha sonora, em emprestar características humanas ao molusco. Após o falecimento do bicho cabeçudo e “zoiudo”, surge um polvinho supostamente filho dela (o documentário trata de um polvo fêmea). O diretor tentou, o tempo todo, emocionar. E conseguiu.
Além da humanização do ser invertebrado, a obra mostra a rotina de alimentação, fuga de predadores e acasalamento. Esses são os momentos “vida animal” que dão uma cara de “domingo à tarde”.
Têm agradáveis surpresas: fugas espetaculares, disfarces, desconfiança, a regeneração de um tentáculo amputado por um tubarãozinho faminto e uma espetacular caminhada em solo marinho, fazendo de pés dois tentáculos.
O filme do cefalópode mereceu o prêmio porque é despretensioso, não politizou (como é costume) — fingindo um denuncismo de ocasião. Talvez o momento não demandasse mais a “lacração” hollywoodiana.
Concluindo, a história é boa, o filme entretém, não dá sono, tem boas imagens e você acaba querendo adotar um polvo, e não mais um gato, como animal de estimação.