Cruella (2021)
Dirigido por Craig Gillespie, o filme conta a história de uma das mais ilustres vilãs da Disney, Cruella. O diretor já havia feito um trabalho semelhante em 2017 com o filme “Eu, Tonya”, aqui ele foca mais no estilo e trilha sonora do que no próprio enredo em si.
O filme conta como Cruella chegou à ascensão derrubando uma das maiores estilistas de Londres na década de 70 e se tornando uma das vilãs mais cruéis da cultura pop.
Emma Stone faz bem as duas personalidades, onde ela assume ser Stella e uma outra metade Cruella, seu alter ego do mal. A atriz faz uma excelente transição sutil entre essas duas personalidades, há muito humor ácido em Stella mesmo sendo uma personalidade mais doce e meiga, já Cruella é excêntrica e na medida certa má, mesmo assim capaz de assumir erros e repara-los.
Emma Thompson como a antagonista Baronesa, parece estar longe da personagem, falta energia, agressividade, em quase nenhuma cena ela me pareceu uma ameaça real, mas sim uma pessoa superestimada, cuja as características vilanescas são verbalizadas a todo tempo. Pense num personagem estereotipado de uma chefe exigente, como Miranda Priestly de “O Diabo Veste Prada” e divida a qualidade ao meio e teremos a antagonista desse filme.
O alivio cômico vem pela dupla Jasper e Horácio interpretados por Joel Fry e Paul Hauser. Os dois são operantes e não muito além do que foram escritos para ser, além de serem uma boa dosagem para as loucuras de Cruella, papel atribuído também à personagem da Kirby Howell, que faz a melhor amiga da protagonista e a repórter Anita Darling, ela tem um papel importante na trama, ela é a personificação da mídia e objetificada pela Baronesa. O restante cumpre bem o seu papel, mesmo aqueles que só dão suporte e que leva a diálogos interessantes como Artie, interpretado por John McCrea e personagens que só explicam o roteiro, como o personagem do Mark Strong.
A trama começa como outra qualquer, uma breve resenha de como a protagonista chegou onde está e segue de um ponto a outro com muita facilidade. Um exemplo, é como a Cruella chegou muito rápido ao seu objetivo, que era desenhar roupas para Baronesa. Faltou sofrimento e muita humilhação pra gente cantar vitória junto com ela e uma bela justificativa de vingança. O trailer desenha isso bem, mas no longa, é na mais pura sutileza que ela chega ao destaque.
O roteiro vai direto ao ponto do primeiro ao segundo ato, mas como isso é feito gera um furo de roteiro. A vitrine que leva a Stella pro estúdio da Baronesa, é muito parecido com o que Cruella cria nas suas aparições, será que ninguém reparou, inclusive uma estilista super famosa? Na trama também há um recurso que é aquele desabafo com um ser inanimado que representa um ente querido pro personagem, no caso, ela conversa com a fonte em que mãe dela no começo do filme queria conhecer, seria um problema se isso não descrevesse a personalidade da personagem, mas ainda é um recurso quase desnecessário, já que ela narra exatamente o que acontece. Também há narrações entre as cenas, umas conclusões sobre os sentimentos da personagem, que algumas vezes dizem o obvio outras deixam como a apresentação dos atos. Algumas cenas começam como de costume, elétricas e bem enérgicas, mas acabam muito rápido deixando um gosto de quero mais, uma coisa do tipo “ei, eu queria ver mais a Emma Stone dirigindo um carro loucamente”.
A grande virada não é lá banhada de originalidade, na verdade é bem brochante e preguiçosa, porém é bem construída ao longo do filme. As aparições públicas da Cruella são divinas, é um ponto forte do filme, é muito bom ver ela finalmente ser reconhecida e apesar da Emma Thompson parecer um pouco apática nessa personagem, é legal ver a cara dela de derrota. Os figurinos e as maquiagens são fabulosos e tudo isso acompanhado de uma trilha sonora com os clássicos do rock britânico dos anos 70.
A direção em sua maioria não abusa da câmera estática, tem um certo movimento até nas cenas de diálogo, dando um aspecto de documentário, usa planos mais abertos e descentralizados colocando um ar mais realista, principalmente nas cenas em que mostra a loucura da protagonista, nas cenas da Baronesa por exemplo, a câmera ou faz um close-up ou centraliza a personagem. A produção também é muito boa, sempre que o nome de Cruella é mencionado na mídia aparece alguns recortes de jornal junto com a cena de vingança, poupando o que seria uma cena de dialogo expositiva atoa.
Cruella (2021) não é absento de erros, tem um roteiro fraco e personagens que faltam desenvolvimento, mas é um filme divertido, escapista e estiloso, cada cena parece um vídeo clipe que você gostaria de sempre rever mais uma vez, não é atoa de seu grande sucesso por parte do público.