Ela (She)

ELA (SHE)
Miguel Carqueija

Resenha do filme “She” (“Ela”), baseado no romance homônimo de H. Rider Haggard. RKO, Estados Unidos, 1935. Produção de Merian C. Cooper. Direção de Irving Pichel e Lansing Cholden. Adaptação, continuidade e diálogos: Ruth Rose. Diálogos adicionais: Dudley Nichols. Música: Max Steiner. Fotografia: J. Roy Hunt. Com Helen Canagan (She), Randolph Scott (Leo Vincen), Helen Mack (Tanya), Nigel Bruce (Holly).

Sabe-se que este curioso filme chegou a ser incluído entre os cem piores de todos os tempos. Mas ele não é propriamente ruim (“As sandálias do pescador” é muito pior), mas “trash”, o que muita gente adora.
Nunca li H. Rider Haggard, criador das histórias de “She”, este é meu primeiro contato com a personagem. Conhecida também como Hash-A-Mo-Tep ela é uma figura misteriosa, arrogante, que reina sobre uma tribo perdida que habita após uma barreira gelada na Sibéria. No século 19 e início do século 20 ainda tinham lugar na literatura inglesa, por exemplo (nacionalidade deste autor) histórias sobre terras perdidas, desconhecidas, o que já se tornou obsoleto num mundo de aviões e satélites.
Na literatura fantástica e sua extensão no cinema não há mal em aceitar a existência absurda de uma “chama da vida” pela qual uma mulher pode viver 500 anos. Esta é a mulher que a si mesma se apresenta como “She”, ou “Ela”, “aquela que deve ser obedecida”. O que eu questiono são outras coisas, como a existência de um país após uma barreira glacial, onde se possa andar sem camisa, sem proteção contra o frio. O que justificaria esta mudança climática tão perto do Polo Norte?
Aliás esse “mundo perdido” é extremamente tosco, com figurinos horríveis, e o ambiente faz lembrar a tosquice do palácio do Imperador Ming em “Flash Gordon”. Em suma, uma civilização primitiva vivendo não se sabe do que. Teriam agricultura, pecuária? Livros, comércio, profissões? Todo mundo parece apenas pertencer ao exército e ao séquito de She. O funcionamento do reino perdido não é nem arranhado. Qual a verdadeira identidade de She, antes que ela se fixasse na região, é outro mistério. E como ela se tornou rainha de um povo primitivo. Agora, supor ainda que ela ficasse aguardando por meio milênio que ali surgisse a reencarnação do homem a quem ela amara é outro descalabro.
Se você puder relevar toda essa esquisitice pode até assistir esse filme com gosto. O produtor, Merian C. Cooper, já havia feito antes o clássico “King Kong”, que também mostrava um mundo perdido, mas esse com animais gigantes.
As interpretações são apenas rotineiras.

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2021.