O espetáculo de Cecil B. De Mille

O ESPETÁCULO DE CECIL B. DE MILLE
Miguel Carqueija

De Mille ganhou dois “Oscars” com “O maior espetáculo da Terra”: melhor filme e melhor argumento.
Quando se chega ao final desta superprodução cansativa, o que se sente é alívio. Contudo a obra tem qualidades, é uma produção caprichada, mas o produtor e diretor De Mille peca pelo exagero, pelo excesso de espetáculo, e também, atualmente, não se vê com bons olhos a escravização dos animais de circo; e aqui temos um verdadeiro zoológico com elefantes, felinos, cachorros, até girafa e hipopótamo.
O comportamento dos personagens principais também não chega a convencer. O circo — foi utilizado o muito famoso “Ringling Bros — Barner & Bailey Circus” — às vezes mais parece um desfile de carnaval e não vi nenhum mágico, faz muita falta. Por outro lado a aparição numa ponta, a cavalo, do famoso “cowboy” do cinema Hopalong Cassidy (William Boyd), já encanecido, é bem vinda. Hoje em dia é um nome esquecido, eu mesmo creio que jamais vi seus filmes; lembro dele em revista infantil.
Bem, parte da trama é o insosso triângulo amoroso entre o diretor do circo, Brad, o astro trapezista Sebastian e a trapezista estrela Holly. E também a competição de ciumeira entre Holly e Sebastian, que para se superarem mutuamente no trapézio acabam trabalhando sem rede abaixo; o acidente é previsível.
Outra parte da trama é com o palhaço Botões (Buttons), interpretado por James Stewart; mas seu rosto não aparece, pois está sempre maquiado. Também carrega sempre um cachorrinho. Buttons guarda um segredo, pois na verdade é um médico que matou a esposa, um caso muito mal explicado na trama. Ele é bondoso e pelo pouco que se revela, terá feito a eutanásia na esposa, que já estava morrendo e provavelmente sofrendo muito. Não é justificável, mas o roteiro faz de Buttons um personagem centrado e simpático, que dá bons conselhos. Mas andar sempre maquiado para ocultar o rosto só poderia despertar suspeitas; não cola. Fica a ponta solta de sua mãe, que aparece no circo para vê-lo; e do cachorrinho doado repentinamente.
No fundo é um filme triste num cenário esfuziante; como pano de fundo a narração na voz do próprio produtor.
É um bom filme até certo ponto, mas forçado como costumam ser as produções de Hollywood.

Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2021.

Paramount Pictures, Estados Unidos, 1952, 152 minutos. Produção, direção e narração: Cecil B. De Mille. Roteiro: Fredric M. Frank, Barré Lyndon e Theodore St. John. Música: Victor Youmg. Fotografia: George Barnes. Figurinos: Edith Head. Título original: The greatest show on Earth.
Elenco:
Brad Braden.............................Charlton Heston
Holly.........................................Betty Hutton
The great Sebastian.................Cornel Wilde
Buttons....................................James Stewart
Angel........................................Gloria Grahame
Phyllis.......................................Dorothy Lamour
Gregory....................................Henry Wilcoxon (também produtor associado)
Henderson...............................Lawrence Tierney
Klaus........................................Lyle Betteer
Birdie.......................................Julia faye
Veterinário...............................Frank Wilcox
Participações especiais de William Boyd (Hopalong Cassidy), Bing Crosby, Bob Hope e Nancy Gates.