As Cruzadas segundo De Mille

AS CRUZADAS SEGUNDO DE MILLE
Miguel Carqueija

Resenha de “As Cruzadas” (The crusades). Paramount Pictures, Estados Unidos, 1935. Produção e direção: Cecil B. De Mille. Roteiro: Harold Lamb, Waldemar Young, Dudley Nichols. Música: Rudolph Georg Kopp. Fotografia: Victor Milne.
Elenco:
Rei Ricardo Coração de Leão.........................Henry Wilcoxon
Princesa Berengária.......................................Loretta Young
Saladino.........................................................Ian Keith
Rei Felipe Segundo, da França.......................C.Henry Gordon
Princesa Alice.................................................Katherine De Mille
Blondel...........................................................Alan Hale
Marquês Conrado de Monferratot................Joseph Schildkraut
Rei Sancho de Navarra...................................George Barbier
Eremita..........................................................C. Aubrey Smith

Em 1191 o lendário Ricardo Coração de Leão, Rei da Inglaterra, dirigiu-se à Terra Santa para a 3ª Cruzada, com um grupo de monarcas ocidentais. Lá entrará em choque com o também lendário Saladino, sultao dos sarracenos.
O chamado filme histórico basicamente romanceia a História, geralmente edulcorando os acontecimentos. É o que se vê claramente neste “The Cruzades”, de 1935.
Cecil B. De Mille (1881-1959), nome seminal do cinema norte-americano, destacado produtor e diretor, primava pela espetaculosidade: grandes cenários, figurinos, astros, centenas de figurantes. Em tudo isso a arte propriamente saía um tanto prejudicada. De Mille deixou uma obra prolífica, com filmes de projeção realmente longa. Entre seus títulos contam-se “O Rei dos Reis” (1927), “Sansão e Dalila” (1949), “Os Dez Mandamentos” (1956), “Vendaval de paixões” (1942), “O maior espetáculo da Terra” (1952).
“As Cruzadas” supõe um grande amor entre Ricardo e Berengária, Princesa de Navarra. Mas a História conta que, após essa cruzada, os caminhos dos dois se separaram e Berengária (nome que hoje ninguém tem coragem de usar) nunca chegou a ir até a Inglaterra.
Além disso há notícias de grandes crueldades praticadas tanto por cristãos como muçulmanos durante esses conflitos.
No filme Saladino se apaixona por Berengária, que casara com Ricardo para atender um negócio de seu pai, o Rei de Navarra. Simplesmente, como precisasse de comida para seu exército a caminho, Ricardo aceitou casar com a princesa a quem nem conhecia (e chamava irreverentemente de “bruxa”, sem qualquer razão para isso) em troca de gado. Isso revolta Berengária mas depois, conhecendo melhor seu marido, passa a gostar dele.
Embora tenha certa dose de interesse o filme se ressente de diálogos fracos e a caracterização do Rei Ricardo — apresentado como ateu, que só no sofrimento mudará de opinião — não convence muito. Como fator de complicação, Ricardo fôra prometido em casamento a Alice, Princesa da França; mas recusa-se a acatar essa disposição. Isso gera tensão e conflitos dentro do próprio exército cristão.
No fim das contas Saladino é muito exaltado como um perfeito cavalheiro mas Ricardo, mesmo sendo valoroso sob diversos aspectos, não deixa de parecer estouvado, arrogante e até machista.
Filme assistível com muitas reservas.

Rio de Janeiro, 6 de abril de 2021.