Resenha do filme “Adorável professor”
Resenha do filme “Adorável professor”
Só quem é sabe o quão trabalhosa e desgastante é a atividade do professor, porque não apenas consiste em transmitir um conhecimento ou ensinar questões práticas. Não raras vezes deparamos com tarefas árduas quando estamos lidando com pessoas. Estas podem ser hiperativas, ter déficit de atenção, semianalfabetas (quando já estão em séries avançadas), disléxicas, surdas, cegas, desinteressadas, bipolares, drogadas, com sexualidade aguçada, etc.
Diante de tantas problemáticas, é necessário ter muita habilidade, controle emocional e sabedoria para compreender o quanto a diversidade nos rodeia. É preciso lembrar que a pessoa que está à frente disso também tem os seus conflitos interiores e exteriores – é pai, mãe, irmã, irmão, filho(a), esposo(a).
No filme “Adorável professor” (1995), o personagem Sr. Holland inicia-se no magistério com a missão de ensinar música aos alunos de uma escola pública dos Estados Unidos. O que parecia fácil, sendo ele um amante desta arte, além de compositor, o desilude quando percebe a desmotivação de seus alunos. Desmotivação essa também emitida por ele, pois estava nesse emprego apenas para pagar suas despesas. Após a gravidez de sua esposa, depara-se com a necessidade de mudanças, caso desejasse realmente manter o trabalho.
Sr. Holland decide fazer “o jogo do contrário”. Começa a explorar mais o mundo dos estudantes. Introduz o gênero rock nas suas aulas, sendo este apreciado pelos alunos, mas que estava fora do programa da disciplina. A história se passa no início da década de 60, nesta época esse gênero musical estava no auge, fruto de uma época de rupturas e de profundo escalonamento de valores e costumes, incitando a rebeldia e a violência. Sr. Holland é chamado à atenção por “subverter” a ordem de que apenas música erudita, clássica, deveria ser ensinada.
Porém, o maior conflito evidenciado no filme é o nascimento de seu filho, acometido de deficiência auditiva, tendo apenas 10% de audição. Ironia, tratando-se do filho de um professor de música. Como subterfúgio, o protagonista se envolve mais com seus discentes, legando a família ao descaso.
Apesar disso, a relação que ele mantém com os alunos é pautada no respeito à individualidade e aos interesses de cada um. Esmera-se em ensinar uma garota a tocar flauta, depois percebe o potencial de cantora em outra educanda. Por esta o professor se encanta e ela corresponde ao afeto, mas o professor mantém sua postura, entendendo que não poderia se aventurar e abandonar sua família que tanto o ama.
Outro momento que devemos resaltar é quando o professor deve organizar uma banda marcial, mas não consegue fazer os alunos marcharem. Para isso, ele conta com a ajuda do colega de Educação Física e, em troca, ensina um ex-aluno a tocar tambor, mesmo este tendo muita dificuldade, mas o mestre não desiste, acredita que ambos são capazes de trabalhar juntos, a fim de superar a falta de coordenação do aprendiz.
Apesar de tantos conflitos, o Sr. Holland é sensível ao problema de audição do filho, que se orgulha do pai. Percebe então que não é justo excluir o filho de sua vida por este não admirá-lo da mesma forma que os seus alunos conseguem. Compõe uma música para seu descendente, aprende língua de sinais e se dedica ao ensino de música para surdos.
Este professor foi adorável porque não desistiu de lecionar, se envolveu com seus alunos, visando suas particularidades. Foi sensível à mudança. Adequando-se à realidade escolar e aos seus alunos quando a maioria espera que os discentes se adaptem ao professor. Um professor que se preze deve ter em mente que a dificuldade em aprender e ensinar não pode ser uma desculpa para o fracasso.
Trata-se de um filme paradigmático, em cuja história encontramos indícios de desafios e os caminhos para sua superação, que fala de educação a partir de uma visão multidisciplinar, em que o mestre e aprendizes devem interagir de tal modo que os obstáculos sejam vencidos e que prevaleça, além da autoridade, o bom senso, uma vez que, em meio às adversidades encontradas no caminho, é preciso ter em conta os contextos em que ocorrem e as limitações de ambos os lados.