"AIR", o filme: a bela e pungente história de Kamio Misuzu
“AIR”, O FILME: A BELA E PUNGENTE HISTÓRIA DE KAMIO MISUZU
Miguel Carqueija
Toei Filmes, Japão, 2005. Direção: Osamu Dezaki. Elenco de dublagem: Tomoko Kawakami (Kamio Misuzu), Hikaru Mirorikawa (Yukito Kunisaki), Aya Hisakawa e Luci Christian (Haruko Kamio), Chinami Nishimura (Kanna), Nobutoshi Canna (Ryuya), Kikuko Inove (Uraha).
“Eu prefiro suportar a dor, a cortar meus sentimentos dentro de meu coração.”
(Kamio Misuzu)
“AIR” é uma das mais belas animações de longa-metragem já produzidas. Um filme primorosamente realizado, onde todos os detalhes se unem para formar uma obra de arte: desde o colorido, a estética, a plasticidade das imagens, que parecem uma aquarela infinita, até o minimalismo da trama que, em sua delicada tessitura, faz lembrar o cinema de arte europeu.
É uma história profundamente triste, perpassada do princípio ao fim por forte sopro de poesia. Perturbadora, emocionante, comovente, é uma história que toca as cordas mais profundas do coração e pode marcar a memória pelo resto da vida.
Kemisaki Yukito é um jovem artista, marionetista ambulante, que exerce sua profissão ao ar livre. A atividade itinerante é incerta e frequentemente o deixa com fome. Entretanto, tempos atrás Yukito estava com a mãe, sacerdotisa xintoísta que lhe falou da profecia sobre a jovem que flutuava no céu, aquela que fôra “selada sozinha, e que chorava sozinha”, e como, em gerações, não tinha sido possível libertá-la.
O título “Air” é a palavra em inglês “air”, ou seja, o ar.
Yukito, pouco interessado em profecias, sai pelo Japão para ganhar a vida. Alto, magro, introspectivo, parece carregar o peso do fatalismo. Um belo dia, porém, ele se detém numa vila praiana, onde conhece uma estranha jovem que sofre de misteriosa doença e não tem amigos, morando com a tia Haruko que é, para ela, uma espécie de mãe.
Kamio Misuzu, a garota, está interessada em realizar um trabalho sobre antigas lendas da região que falam nos seres alados de um passado longínquo, no Japão feudal. Um destes seres, a Princesa Kanna, tinha a sua vida ligada à tragédia. Capturada pelos humanos, separada da mãe, fugira um dia do castelo onde era mantida prisioneira. Perseguida, fôra flechada e subira ao céu ferida, e permanecera lá, selada pelos séculos vindouros...
Essa história tristíssima do Japão feudal como que perpassa sobre a outra história, passada nos tempos contemporâneos, o drama que envolve Misuzu, a quem costuma faltar o ar, e cujo estado parece se agravar quando se aproxima de algum relacionamento. De algum modo Kamio não pertence ao nosso mundo, como se o seu verdadeiro mundo fosse lá em cima, nos ares, como se uma estranha afinidade a ligasse aos seres alados do passado, a raça extinta. O mistério de Kamio e da menina alada Kanna até o fim não é esclarecido; e tanto o filme como o seriado de televisão deixam nos espectadores uma pungente sensação de dor, de compaixão pelas personagens embora fictícias. E demonstram, enfim, que os mais belos sentimentos de amor e solidariedade vicejam em meio ao sofrimento que acompanha a existência neste nosso mundo.
Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2010 a 28 de maio de 2013.
“AIR”, O FILME: A BELA E PUNGENTE HISTÓRIA DE KAMIO MISUZU
Miguel Carqueija
Toei Filmes, Japão, 2005. Direção: Osamu Dezaki. Elenco de dublagem: Tomoko Kawakami (Kamio Misuzu), Hikaru Mirorikawa (Yukito Kunisaki), Aya Hisakawa e Luci Christian (Haruko Kamio), Chinami Nishimura (Kanna), Nobutoshi Canna (Ryuya), Kikuko Inove (Uraha).
“Eu prefiro suportar a dor, a cortar meus sentimentos dentro de meu coração.”
(Kamio Misuzu)
“AIR” é uma das mais belas animações de longa-metragem já produzidas. Um filme primorosamente realizado, onde todos os detalhes se unem para formar uma obra de arte: desde o colorido, a estética, a plasticidade das imagens, que parecem uma aquarela infinita, até o minimalismo da trama que, em sua delicada tessitura, faz lembrar o cinema de arte europeu.
É uma história profundamente triste, perpassada do princípio ao fim por forte sopro de poesia. Perturbadora, emocionante, comovente, é uma história que toca as cordas mais profundas do coração e pode marcar a memória pelo resto da vida.
Kemisaki Yukito é um jovem artista, marionetista ambulante, que exerce sua profissão ao ar livre. A atividade itinerante é incerta e frequentemente o deixa com fome. Entretanto, tempos atrás Yukito estava com a mãe, sacerdotisa xintoísta que lhe falou da profecia sobre a jovem que flutuava no céu, aquela que fôra “selada sozinha, e que chorava sozinha”, e como, em gerações, não tinha sido possível libertá-la.
O título “Air” é a palavra em inglês “air”, ou seja, o ar.
Yukito, pouco interessado em profecias, sai pelo Japão para ganhar a vida. Alto, magro, introspectivo, parece carregar o peso do fatalismo. Um belo dia, porém, ele se detém numa vila praiana, onde conhece uma estranha jovem que sofre de misteriosa doença e não tem amigos, morando com a tia Haruko que é, para ela, uma espécie de mãe.
Kamio Misuzu, a garota, está interessada em realizar um trabalho sobre antigas lendas da região que falam nos seres alados de um passado longínquo, no Japão feudal. Um destes seres, a Princesa Kanna, tinha a sua vida ligada à tragédia. Capturada pelos humanos, separada da mãe, fugira um dia do castelo onde era mantida prisioneira. Perseguida, fôra flechada e subira ao céu ferida, e permanecera lá, selada pelos séculos vindouros...
Essa história tristíssima do Japão feudal como que perpassa sobre a outra história, passada nos tempos contemporâneos, o drama que envolve Misuzu, a quem costuma faltar o ar, e cujo estado parece se agravar quando se aproxima de algum relacionamento. De algum modo Kamio não pertence ao nosso mundo, como se o seu verdadeiro mundo fosse lá em cima, nos ares, como se uma estranha afinidade a ligasse aos seres alados do passado, a raça extinta. O mistério de Kamio e da menina alada Kanna até o fim não é esclarecido; e tanto o filme como o seriado de televisão deixam nos espectadores uma pungente sensação de dor, de compaixão pelas personagens embora fictícias. E demonstram, enfim, que os mais belos sentimentos de amor e solidariedade vicejam em meio ao sofrimento que acompanha a existência neste nosso mundo.
Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2010 a 28 de maio de 2013.