"Bloqueio", o filme bloqueado

BLOQUEIO, O FILME BLOQUEADO
Miguel Carqueija

Resenha do filme “Bloqueio” (Blockade). Estados Unidos, Classic Line, 1938, 84 minutos. Produção: Walter Wanger. Direção: William Dieterle. Roteiro: John Howard Lawson (não creditados: James M. Cain e Clifford Odets). Música: Werner Janssen. Canções: Ann Ronell. Produção musical: Boris Morros. Regência: Invin Talbot. Fotografia: Rudolph Maté.
Elenco:
Norma....................................Madeleine Carrol
Marco.....................................Henry Fonda
Luis.........................................Leo Carrillo
Andre......................................John Halliday
Eddie.......................................Reginald Denny
Basil.........................................Vladimir Sokoloff
Vallejo.....................................Robert Warwick

Os filmes de Hollywood eram em geral ruins mas passavam por bons, e isso na falta de maior espírito crítico. Cheios de falhas de roteiro, deixavam pontas soltas. Hoje são piores do que isso: são desavergonhados e violentos mesmo.
Este “Bloqueio” segundo a propaganda seria um dos primeiros filmes anti-fascistas de Hollywood. Entretanto é dúbio e a gente não sabe nem se ele se posiciona contra o fascismo dos franquistas-nacionalistas da Espanha ou do fascismo dos comunistas. A época é 1936, na Espanha — início da tão sangrenta guerra civil que levou três anos.
Walter Wanger (1894-1968) era um produtor de prestígio, “Invasion of the body snatchers”, de 1956, é uma obra-prima de suspense. Mas “Bloqueio” é pífio e bisonho. Os “bonzinhos” da história não se sabe a que lado pertencem, tampouco os “mauzinhos”. Só se fala no “inimigo”. Faltou franqueza. A história fala de invasores mas isso ocorreu dos dois lados. Se os nacionalistas contaram com forças de Hitler e Mussolini, os comunistas foram apoiados pelas brigadas internacionais organizadas por Rússia e México.
Uma grande ponta solta é quando o pai de Norma morre no confronto com Marco e a moça deixa o corpo insepulto, é levada presa e ninguém esclarece o que fizeram com o corpo. Essas pontas soltas são muito comuns nas produções de Hollywood, onde tudo se resolve às pressas.
Outro ponto fraco é o patético discurso de Henry Fonda faz no fim, quando em tom dramático acaba se dirigindo à própria platéia — e a projeção termina. Ficou uma coisa muito forçada.
Embora a propaganda esquerdista apresente Franco e seus aliados como os grandes algozes dessa guerra, não se pode esquecer as terríveis crueldades que os comunistas e anarquistas praticaram, inclusive matando padres e violando freiras.
É difícil encontrar heróis nas guerras.

Rio de Janeiro, 6 de março de 2021.