O menino do pijama listrado e a maldade dos adultos

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO E A MALDADE DOS ADULTOS
Miguel Carqueija

Resenha do filme “O menino do pijama listrado” (The boy in the striped pyjamas). Reino Unido, 2008. Miramax. Em cores, 94 minutos. Produção executiva: Mark Herman, Christine Langan. Direção e roteiro: Mark Herman. Produção: David Heyman e Rosie Alison. Adaptação do livro de John Boyne. Música: James Horner.

Elenco:
Asa Butterfield............................Bruno
Vera Farmiga...............................Elsa (mãe)
Amber Beattie.............................Gretel (irmã)
Richard Johnson..........................avô
Sheila Hancock............................avó (Nathale)
Cara Horgen................................Maria
Rupert Friend..............................Sargento Ketler
David Hayman.............................Pavel
David Thewles.............................Ralf


“A infância é formada por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão se expanda.”
(John Betjeman, citação na abertura)

“Fedem ainda mais quando queimam.”
(Sargento Ketler)

“Ignore o fato de que o homem com quem me casei é um monstro.”
(Elsa)


“O menino do pijama listrado” é certamente um dos filmes mais marcantes dos últimos tempos e dos mais pungentes. Baseado num livro célebre que ainda não pude ler (obs. a essa altura já li e já resenhei) ele vai mostrando como indivíduos aparentemente normais, que vivem em família e têm as suas profissões até nobres, podem por influência de uma ideologia ou coisa que o valha irem perdendo a sensibilidade e se transformando em verdadeiros monstros.
Afinal é isso o que acontece com Ralf, o oficial nazista que aceita a incumbência de dirigir um campo de concentração na Polônia, onde Hitler já estava aplicando a sua “solução final” para o problema dos judeus: a câmara de gás, o extermínio em massa.
Bruno, filho de Ralf, é um menino de oito anos, inocente, não sabe o que está acontecendo. A sua vida muda quando é obrigado a seguir com a família para Auschwitz, deixando Berlim e seus amigos. A irmã mais velha de Bruno, Gretel, é contaminada pelos ideais nazistas de supremacia, mesmo sendo apenas uma criança. A mãe, Elsa, é uma mulher digna, respeita o marido e sua posição, mas ignora o que acontece no campo ao lado das residências militares, o campo de concentração; apenas vê a fumaça que evola de imensa chaminé a distância.
Um judeu, Pavel, que foi médico, mora com os soldados e suas famílias, e é um simples serviçal tratado de forma humilhante. Seus irmãos de etnia estão aos poucos sendo exterminados no campo. Todavia Elsa ignora os fatos; seu marido está sob segredo de Estado. Ela só enxerga a verdade quando o pernóstico Sargento Ketler faz um comentário indiscreto a propósito da fumaça da chaminé.
Mas Bruno, com a inocência de sua idade, incapaz de imaginar o que ocorre, ao escapulir para fora dos alojamentos depara, do outro lado da grade que delimita o campo de concentração, com o “menino do pijama listrado”, Shmuel, um garoto judeu. Na verdade o pijama é um uniforme usado pelos prisioneiros do campo.
Os dois meninos travam uma grande amizade ignorada pelos adultos. O trágico desfecho é o ordálio, a Justiça de Deus caindo de chofre sobre o oficial nazista.
A mensagem ilustra bem as famosas palavras de Jesus, quando disse das crianças, que “é delas o Reino dos Céus”.

Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2018.