Cinquenta tons de "Amour" de Haneke
Texto originalmente escrito em 2015.
Estava eu revendo o longa-metragem "Amour", do fabuloso Haneke, qnd minha mãe me interrompe indagando por que eu assistia a um filme incomodo daquele, sobre um casal de idosos enfrentando os desafios do relacionamento na terceira idade.
Neste instante, me dei conta de que esse filme é uma obra de arte, e de que o Haneke é um dos grandes cineastas da vanguarda e de toda história conhecida do cinema.
Numa época onde as pessoas anseiam por ver nas telas histórias de jovem-rico- confiante seduz moça-pobre-inibida e na qual casais prematuros fazem juras de amor eterno, ele se propõem a mostrar que a realidade é distante deste ideal.
"Amor" é um filme indigesto, conflitante, que causa sentimento de toda ordem ao espectador. Ele nos convida a questionar qual é o verdadeiro significado do amor e se esse é capaz de sobreviver aos percalços de uma vida matrimonial longeva.
Do contrário, a sequência Cinquenta tons de cinza, pra ficar num bom exemplo, somente terá alguma relevância enquanto obra, se se propuser a mostrar a vida do casal há daqui uns 40 anos, e se a atração que sentem um pelo outro sobreviverá a deterioração inerente ao corpo, que me parece ser o único combustível da trama, sem o qual a história não se mantém.
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Dizer que ama uma pessoa aos vinte e poucos anos, qualquer um é capaz; dizer que a amaria aos 30, aos 60 e aos 80 com a mesma intensidade e dedicação aos de vinte e poucos anos, é só para - como diz o poeta - “para quem está pronto para o amor”
Porque, como diz o outro poeta, é preciso saber bem qual é o objeto do nosso amor, e não recuar diante de qualquer pretexto.