A PEQUENA MISS SUNSHINE
Eterna promessa de futuro - The Little Miss Sunshine
Marília L. Paixão
Logo que fui apresentada às primeiras imagens do filme acabei me lembrando de “Beleza Americana”. Não fosse a pequena miss seria uma associação definitiva de infelicidade e frustrações na família, salvo os que reclamavam pouco, mas que sofriam conseqüências dos desequilíbrios dos outros. Bastou ter assistido ao filme uma vez para ver que era um filme sobre sonhos. Um filme para vencedores e não um filme sobre irrealizações por mais que descrevessem personagens com sonhos falidos e em atos finais. Não eram sonhos extintos! Mas com certeza o sol brilhava em torno da miss Sunshine e isso com certeza fazia com que todo telespectador depositasse tudo de bom nela, inclusive um final feliz! A presença da nossa miss “candidata” foi fazendo do filme algo tão espetacular que todos da sua família passaram a serem visto com muito mais simpatia que preconceito, o que foi dando charme ao filme e despertando interesse pelos mínimos detalhes. Cada rosto, cada fala, cada situação inusitada, cada vez que a Kombi era empurrada, tudo era alegria. Ali estávamos nós diante de um filme fantástico! As anormalias iam sendo apresentadas de forma divertida como se preparassem o telespectador para ficar na linha que separa não o riso do choro, mas a preocupação da descontração. Uma coisa muito séria vinha logo com uma solução engraçada e antes que você terminasse de se emocionar com o drama outra grandiosa cena tomava o lugar. Voltando a nossa pequena inesquecível miss Sunshine, que além de ser o tesouro precioso do filme era a grande esperança da família, o que passou a ser nossa esperança de presentear a família com algum sucesso. Isso seria um presente para nós mesmos! Nossa vez de mostrar nosso lado humano e solidário. Por dentro nosso coração ria mais que movia a própria boca. Atrevo-me a dizer que todo ser sensível sentiu-se um pouco Alice Maravilhada indo junto naquela Kombi. Até as saídas mal planejadas das situações irregulares passaram a não nos incomodar, como a do guarda e a saída do hospital. Nessa altura não compreenderia nenhum membro da família sendo rejeitado por nenhum telespectador. Com certeza todos teriam já ganhado a simpatia de todos. O que mais me deixou fascinada com o filme foi justamente essa atração pela trama. De repente parecia que aquela família era um pouco de cada um de nós. Aquela Kombi já era também nossa. Não faltaria vontade de ajudar a empurrar. Até que veio o fim roubando o sonho de cada um de nós e nos devolvendo á luz das nossas próprias dificuldades e incertezas. Para muitos deve ter restado a sensação de sonho em vão e para outros a insatisfação com o ridículo. Muitos podem até ter odiado o final. Mas já pensou na união da família em prol daquele evento? Já pensou em não levar todas as situações ao pé da letra e tirar proveito da parte dramática do filme? Quantas lições de vida havia ali? E a falta de comunicação entre os seres? E o número que seria apresentado? E a roupa da apresentação que sequer a mãe conhecia? E os róis de problemas, não bastassem os financeiros em que aquela família vivia? E a criança que parecia passar mais tempo com o avô que com os pais? E a alegria e descontração da criança que parecia alheia aos grandes problemas, mas na verdade convivia com eles o tempo todo. A criança com sua inteligência e auto-estima muito bem centrada. A criança que sequer quando foi esquecida não demonstrou nenhuma intranqüilidade. A meu ver aquela criança centrava-se no pai. Tudo que ele dizia ela prestava atenção e lhe parecia fazer sentido. Ele era o seu ídolo. Os nove passos para o sucesso ela queria em seu mundo. Uma criança que pensa assim não deixa de ser uma promessa de futuro para qualquer família.