NÃO ADORMEÇA (1982)

Existem filmes pelos quais nutro um certo carinho. São filmes que marcaram positivamente minha infância de alguma forma, independente do nível de qualidade que apresentam. Há aquelas produções, por exemplo, que me são memoráveis por causa das noites em claro que me fizeram passar, tal era o medo que conseguiam me incutir. A pioneira nesse quesito foi NÃO ADORMEÇA, um TV-movie feito em 1982, injustamente relegado ao obscurantismo.

Lançado três meses depois de POLTHERGEIST, NÃO ADORMEÇA foi exaustivamente exibido, em meados da década de 80, pela Rede Globo. Foi numa dessas ocasiões que eu o assisti (tinha de 12 para 13 anos) e fiquei me borrando de medo a noite toda.

A trama é simples: Philip (Dennis Weaver) e Laura (Valerie Harper) mudam-se com seu casal de filhos, Mary (Robin Ignico, ótima) e Kevin (Oliver Robins, que atuou também em POLTHERGEIST) para um bairro afastado depois de perderem sua filha mais velha, Jennifer (Kristin Cumming) num trágico acidente de carro sofrido pela família. Na nova residência o fantasma de Jennifer aparece para a irmã, Mary. A morta diz que está muito triste e irritada, já que não está mais sendo lembrada pelos pais, o irmão e a avó (Ruth Gordon), moradora também da casa. Jennifer afirma que Mary é a única que ainda a ama, e a desafia a demonstrar esse amor, convencendo-a a fazer-lhe um favor a fim de que possam ficar juntas pra sempre.

NÃO ADORMEÇA é a típica produção feita para a tv, ou seja, com orçamento diminuto, o que é perceptível na fotografia discreta e na precariedade de recursos. Não há efeitos especiais mirabolantes como os que a gente costuma ver em muitos filmes desse gênero, tudo aqui é feito tão somente com filtros de câmera e a hábil utilização do claro e escuro. As aparições fantasmagóricas, por exemplo, acontecem num jogo de luz e sombra, e que proporciona um resultado mais assustador que muitos efeitos de CGI vistos atualmente. O filme consegue ser impactante sem precisar recorrer a cenas grotescas e violência explícita.

A trama, apesar de simples, é bastante interessante e diferente de tudo que se costuma ver em produções com esse tema. Ao contrário de outros longas similares, que enfatizam a união familiar na luta para superar as adversidades, NÃO ADORMEÇA segue por uma via diferente, mostrando de forma trágica a desagregação de uma família, o colapso paulatino dos laços que a une e a fortalece.

É um filme que aposta unicamente na condução da narrativa, na capacidade dramática do elenco e na força da trama, diferente da maioria dos filmes de terror atuais que se apoiam no excesso de efeitos especiais e na violência gráfica. Revê-lo me encheu de uma gostosa sensação de nostalgia. Foi como voltar no tempo e reencontrar um velho amigo de infância.

Bia Borges
Enviado por Bia Borges em 19/08/2020
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