Nossa vida não cabe num Opala, de Reinaldo Pinheiro
Nossa vida não cabe num Opala, de Reinaldo Pinheiro
Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy
Baseado numa peça de Mario Bortolotto, e com traços que lembram a dramaturgia de Plínio Marcos, “Nossa vida não cabe num Opala”, de 2008, é um filme brasileiro muito original. A linguagem pretensamente pobre, as situações óbvias, o claro-escuro que chega a ser brilhante e o contexto de decadência urbana escondem uma ironia cheia de subtilidades.
Tem-se a impressão que o filme todo se passa num cemitério de automóveis, imagem recorrente nas peças do dramaturgo norte - paranaense. No enredo, um fantasma do pai morto visita os quatro filhos. A presença de um pai ausente (de fato) é central no filme. Simplesmente, os dois mais velhos seguiram a carreira do velho: roubavam carros e eram especialistas no furto de Opalas. O mais novo era um skatista à busca de uma referência e de um caminho, e não acertava como puxador de carros. A irmã tocava teclados numa churrascaria, e era cotejada por tipos asquerosos. Entre eles, o dono de um desmanche e de um ringue de box, que explorara o falecido ladrão de carros e que cobrava dos filhos do morto uma dívida impagável. A viúva apodrecia num hospício.
Antológicas as aparições de uma moça solitária, Sílvia, que sempre reproduzia os mesmos diálogos, nas tentativas de sedução que empreendia. A solidão era sua marca mais nítida, além de uma lascívia sem limites. A música-tema comprova-nos que se pode cantar Frank Zappa em português; é o ponto alto do filme. Mario Bortolotto, o autor da peça, é de onde venho, Londrina. Parece-me, odiava sapatos de camurça ou, pelo menos, um de seus personagens assim sempre o dizia. É um dramaturgo original. No elenco, atores com muita experiência, como Jonas Bloch e Paulo César Pereira. Há também participações especiais de Marília Pêra, Dercy Gonçalves e do prosaico Maguila, o jogador de box.
“Nossa vida não cabe num Opala” não demanda um olhar generoso. É um filme que se sustenta pelos propósitos honestos.