Maria e João: O conto das bruxas

Por enquanto é melhor nos contentarmos com a versão de João e Maria: caçadores de bruxas, porque a tentativa mais recente de criar um novo ponto de vista para o clássico dos Irmãos Grimm não foi bem sucedida.

Maria e João: O conto das bruxas até tenta trazer um terror mais conceitual e independente das velhas histórias de bruxas contadas até então, mas acaba caindo numa narrativa sem detalhes e sem história.

Primeiramente temos a divergência de idade entre Maria e João (só por isso colocaram o nome dela na frente?) que até o momento não havia sido feito, colocando a responsabilidade da sobrevivência dos dois em cima da menina, que mostra esperteza e dignidade logo no começo da trama por recusar serviços a um pároco com segundas intenções. Ótimo, até aqui o sexo frágil é descartado. Ponto positivo.

Em seguida, por consequência dessa recusa, os irmãos se veem obrigados a deixar o lar e partir em busca de algum lugar mais próspero. Pelo caminho encontram uma criatura (que nem eles nem nós sabemos o que é, pois o filme não deixa claro) e são salvos dela por um caçador. Esse incidente e o encontro com o caçador não agregam em nada na história e se não estivessem lá não fariam falta nenhuma. Primeiro ponto negativo.

Depois, ao continuarem o caminho, se deparam com cogumelos alucinógenos, os quais eles comem e ficam delirando. What???? Nesse momento só Maria consegue ver de longe três vultos (???) que já tinha visto anteriormente e segue o caminho com João até encontrarem a bendita casa da bruxa que – pasmem – não é feita de doces embora atraia as crianças por ter várias iguarias postas na mesa. E em nenhum momento, desde o começo da jornada, não vemos nem ouvimos nada sobre Maria ter poderes especiais. Mais um ponto negativo.

Uma vez dentro da casa a bruxa, num processo que dura vários dias, dá conforto às crianças e as enche de comidas de origem misteriosa. Pouquíssimas vezes a tão esperta e audaz Maria desconfia das intenções da velha. Nem mesmo através dos pesadelos Maria toma uma iniciativa (ação de fato) pra tentar sair daquele lugar. Uma boa perseguição teria caído bem já que praticamente 70 minutos de filme se passam na casa. Isso é tediante demais se não tiver tensão ou conflitos.

Mas o filme merece destaque pela imagem da bruxa, que sem dúvidas é um contraste nessa história. A caracterização dela nos faz ter medo até mesmo parada e suas observações e falas no filme são dignas de um terror psicológico. Somente ela dá aspecto de terror à trama e até o último momento se torna uma figura gigante diante de todos os outros personagens. Ponto positivo.

Após alguns dias João desaparece e Maria continua na casa, mais passiva do que o bastão de madeira que ela aprende a controlar pelos ensinamentos da velha. Quando percebe o que está acontecendo Maria aproveita uma oportunidade para dopar a bruxa, sem sucesso. Que maneira mais óbvia de se livrar de uma bruxa não?

Ao final – de uma hora pra outra – Maria usa seus poderes pra matar a bruxa, salvar o irmão e àqueles que até então estavam sob as garras da velha. E acabou...

Onde está a construção da personagem Maria? Porque não houve maior tensão quando ela percebe do que é capaz? O ato de heroísmo só no final quando o filme tenta se tornar diferente? Porque João é usado como ferramenta para que Maria use seus poderes? Infelizmente são lacunas que fizeram desse filme mais um fracasso do gênero terror nas mãos de Oz Perkins, que já falhou em O último capítulo, produção original da Netflix (nem assistam pra ter certeza).

A fotografia do filme traz uma baita atmosfera macabra e misteriosa, mas nem isso consegue salvar a morbidez que o filme nos lança após sairmos da sala do cinema.