O passado, de Hector Babenco

O passado, de Hector Babenco

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

“O passado” é filme introspectivo e provocante que nos indaga qual o grau de liberdade que temos para com nossa própria história. Até que ponto podemos esquecer o que vivemos? Ou ainda, como construímos nossas narrativas? Do que nos esquecemos? E por que nos esquecemos? E do que nos lembramos? São fatos efetivamente ocorridos ou são fragmentos de uma memória que se aproxima dos delírios dos sonhos?

Além do que, quem nos acompanhou em algum ponto de nossas vidas, até quanto está disposto (a) para nos esquecer? O esquecimento é de certa forma a cura para nossos males, teria dito Nietzsche. Ou o não esquecimento a fonte de nossas angústias, teria afirmado Freud.

Em “O passado” Rimini (Gael García Bernal) é um jovem tradutor que vive tormento ao separar-se de Sofia (Analía Couceyro), com quem foi casado por 12 anos. Sofia foi namorada de infância de Rimini. Inconformada, Sofia não aceitou a separação. O ex-marido viveu alguns casos amorosos, casou-se novamente, mas nunca mais acertou em suas opções sentimentais.

Pior, o que terrível para a profissão de tradutor que exercia, passou a esquecer momentânea e parcialmente rudimentos de inglês e de francês, línguas que dominava. O esquecimento pode ser também uma forma de defesa. As reminiscências de sua própria trajetória não o abandonavam. E Sofia também não. É um filme que discute os limites e o alcance da construção de nossas reminiscências.

“O passado” é dirigido por Hector Eduardo Babenco, cineasta nascido na Argentina em 1946, e que conta com vários excelentes trabalhos em sua filmografia, como “Carandiru”, “Pixote”, “O Beijo da Mulher Aranha”, “Brincando nos Campos do Senhor” e “Lucio Flávio, passageiro da agonia”.

No papel principal o mexicano Gael García Bernal, sensação do cinema contemporâneo, e que atuou, entre outros, em “Cartas para Julieta”, “Diários de Motocicleta” e “Ensaio sobre a Cegueira”, este último baseado na obra de José Saramago. Hector Babenco, a exemplo do que Hitchcock fazia em seus trabalhos, faz uma pequena ponta no filme. Descubra qual.

Arnaldo Godoy
Enviado por Arnaldo Godoy em 29/02/2020
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