Resenha do filme: "Entre os muros da escola"

Disciplina: Ética e Educação

Docente: Maria de Fátima

Aluna: Cristina Barcelos Rodrigues Pinto

Número: 5636502

Resenha do filme: “Entre os muros da escola"

Produzido na França no ano de 2008, “Entre os muros da escola” é um filme que retrata o cotidiano escolar de alunos do ensino médio de uma escola localizada no subúrbio de Paris, durante o ano letivo. A maior parte das cenas se dá nas aulas de François, professor de francês há quatro anos na escola em questão, além de abordar outros momentos da rotina como, reuniões entre pares, gestão, pais e alunos, intervalo e sala de professores.

Para melhor apresentação e compreensão do trabalho, o mesmo será dividido em tópicos, cujas temáticas abordarão questões relevantes do filme.

Escola

Público atendido:

Alunos não abastados, pertencentes a diferentes etnia, cultura e religião.

Docentes:

O corpo docente conta com sala numerosa e conflitos a serem resolvidos. Alguns demonstram esgotamento e falta de perspectiva quanto à educação, o que não os impede de se engajarem em suas atividades na classe e em assuntos alheios a ela, mas referente aos alunos. Seguem a lógica da punição e mérito, além da rotulação e esteriotipação.

Gestão:

O filme mostra um diretor não muito interessado em ajudar os alunos a se desenvolverem de forma pessoal, mas sim com sinais de esgotamento com maior demanda para as questões burocráticas, e ações pedagógicas de forma mais pragmática e punitiva.

Cultura escolar:

De acordo com o comportamento de docentes e gestão, o filme apresenta uma cultura escolar punitiva, meritocrática e dotada de favorecimentos.

Maior preocupação com regras e condutas comportamentais de morais.

Professor François

Características:

Professor de francês, leciona há quatro anos na escola em questão. Às vezes demonstra sinais de cansaço e falta de paciência, mas se destaca de seus colegas por ter um olhar de “esperança” em relação a seus alunos, procurando envolve-los nas atividades propostas e compreendendo seu ponto de vista sobre as questões cotidianas abordadas.

Questões éticas:

Como um dos personagens principais da obra, uma grande quantidade das cenas se passa durante suas aulas, nesse sentido, seu comportamento como docente fica mais evidenciado no filme. Sendo ele o protagonista de um grande dilema ético apresentado.

Percebe-se desde o inicio que o professor segue alguns dos princípios da cultura escolar proposta, ao dispensar maior preocupação com regras comportamentais que morais. Fica explicito no filme a falta de tolerância com bonés, capuz, permissão para falar, se levantar e até para recepcionar quem chega a classe.

Enfrenta os conflitos oriundos de uma classe numerosa com alunos pertencentes a diferentes etnias e culturas, além da diferença idiomática. Mas procura compreende-los quando essas questões vem a tona como no caso da sugestão de duas alunas no tocante aos nomes que serviam como exemplo na classe, propuseram elas que os nomes não fossem apenas em inglês, embora com a ressalva de não poder considerar todas as diferenças etinicas presentes na classe para executar suas aulas.

Propõe um trabalho onde os alunos deveriam escrever seu autorretrato.

Expõe, de forma positiva, o trabalho de fotografias de um dos alunos que não acredita em seu potencial. Fica evidenciado nesse trabalho que muitos dos alunos não acham suas vidas interessantes e nem veem a escola como um fator de mudanças social.

Porém a grande questão do filme gira em torno de uma situação protagonizada por François, duas alunas representantes de sala e um aluno de origem árabe, após o Conselho de Classe.

Durante a reunião as duas alunas representantes pareciam não estar muito interessadas, seguindo com risos e conversas paralelas. Após a reunião e entrada na classe, as alunas repassam informações de notas e diálogos apresentados na reunião, fato que desagrada o professor. Nesse contexto ele argumenta que as duas alunas riam como vagabundas, o que gerou indignação da classe e das alunas, quando um aluno, Sowleymane, se levanta diretamente contra o professor e se retira da classe sem permissão ferindo uma aluna, ainda que sem intenção. As alunas o denunciam ao Conselho de Classe. O aluno Sowleyname é chamado ao Conselho de Disciplina e acaba sendo expulso.

O exposto acima, é bastante simbólico no que se refere a questões éticas e morais, no contexto escolar. Fica evidenciado a questão do respeito unilateral e entrepares, na medida em que, quando o professor desrespeita de forma explicita as alunas, esse fato é minimizado pela gestão e pelos docentes, mas o fato do aluno ter saído sem permissão e batido com a mochila no rosto da colega, sem queres, se torna inadmissível, ainda que a própria aluna interceda a favor do colega, argumentando que, se ele for expulso da escola, o pai dele o mandaria de volta para sua aldeia de origem, por ser “bravo” e não aceitar esse tipo de comportamento.

A escola se mostra irredutível, como se o problema desse aluno não pertencesse a ela e a solução mais propicia seria demandar esse problema para outra escola. Durante a reunião do Conselho Disciplinar, a mãe argumenta a favor do filho, apresentando suas qualidades domesticas e sua responsabilidade com a família. É valido mencionar que a mãe não compreende o idioma Frances, motivo pelo qual não respondia aos bilhetes enviados por certos professores sobre o comportamento de seu filho. Ainda assim, o filho acaba por ser expulso.

Quanto aos docentes e gestão, François parece ser o único a se preocupar de fato com o jovem, argumentando sobre as consequências da expulsão e seus pares, por sua vez, são unanimes em argumentar que ele não deveria se ater dessa forma aos problemas pessoais de cada aluno, que isso não era responsabilidade dele nem da escola.

Seguindo essa linha, do respeito unilateral, em dada cena François fuma no refeitório da escola sendo posteriormente advertido por uma funcionaria. Parece que mais uma vez, o respeito as regras é visto de forma hierárquica, verticalmente, considerando que, o professor sempre cobra respeito as normas comportamentais de seus alunos.

Outro momento relevante se dá quando uma das alunas se recusa a ler um trecho do livro proposto por François que, visivelmente abalado, exige que a aluna repita frases de ordem, respeito e desculpas a chamando de insolente. A aluna, após certa recusa, repete o que é solicitado pelo professor, mas não assimila de forma positiva esse feito.

Fica claro que a aluna obedece por coação, mas não concede um pedido de desculpas sincero, algo que a fizesse refletir sobre sua conduta. Após esse episódio a aluna escreve carta ao professor onde relata que deve ser tratada com respeito por ele, argumentando que se, ela não o chama de insolente, ele também não deveria fazê-lo. Percebe-se uma reflexão da parte dele quanto ás práticas utilizadas e por sua vez, tenta se redimir buscando conquistar a aluna novamente.

Ainda na sala de François, durante os relatos de aprendizagem, já no fim do ano letivo, temos duas situações que devem ser evidenciadas. A primeira, protagonizada por Esmeralda, a aluna anteriormente chamada de vagabunda pelo professor, relata que não aprendeu nada e que os livros indicados pelo professor eram inúteis. Quando ele então solicita que ela falasse sobre algum livro que ela tenha lido fora da escola, a aluna cita uma obra de Platão em diálogo com Sócrates, esmiuçando as ideias com propriedade, surpreendendo o professor.

Tal episódio embasou a reflexão sobre a rotulação de alunos e práticas docente. A aluna após expor a opinião sobre os livros abordados em sala poderia ter sido de imediato rotulada como desinteressada, que não gosta de ler, ou algo do tipo, sem que antes, houvesse a percepção de que os alunos aprendem de formas diferentes eu, para essa aluna, os livros da grade obrigatória não lhe despertava o interesse devido, o que deveria ser diagnosticado e tratado de maneira particular pelo professor.

Concluindo a cena, a aluna diz sobre o livro que leu: “Viu, não é livro de vagabunda”. Frase bastante simbólica nesse momento do filme.

Ainda nesse momento dos relatos finais, uma outra aluna esperam que todos saiam para conversar com o professor relatando a ele que não aprendeu nada e que sentia medo de ser direcionada a um curso técnico, mostrando a preocupação da jovem com a possiblidade de ser excluída do ensino superior, segundo a lógica meritocratica vigente na maior parte do sistema educacional.

Saindo um pouco da aula de fraçois, temos o caso de um aluno chinês com dificuldades na aprendizagem do idioma francês sendo esse um fator de exclusão social, tal aluno é considerado interessado nas aulas e tira boas notas. Em dado momento do filme a mãe é presa por estar ilegalmente na França. Nesse momento os professores, de forma unanime, se propõem a fazer uma vaquinha para pagar o advogado, bem como, de irem ao tribunal tentarem intervir sobre o veredito.

Esse fato se torna relevante porque esse mesmo grupo de professores que foram unanimes quanto ao auxilio a esse aluno, também foram unanimes quanto a decisão de expulsão de outro aluno, fato já mencionado nesse trabalho. Dessa forma, a conduta da escola torna-se questionável quanto a meritocracia e favorecimentos.

O aluno expulso tinha o rótulo de bagunceiro, mal educado, cuja condduta atrapalhava o andamento das aulas. Foi argumentado sobre sua responsabilidade familiar, sobre o problema relacionado ao temperamento do pai, sobre as diferenças étnicas e culturais e sobre as consequências diretas para o aluno, de sua expulsão. De nada adiantou.

Já o aluno chinês, era tido como o “bom aluno”, com boas notas, e todo o corpo docente correu em seu socorro.

Não é o fato dele não merecer esse auxilio, se trata do outro não ter recebido auxilio nenhum. Considerando a escola um ambiente que deve ser justo pela sua própria natureza, a situação mencionada não poderia ser tratada sem a devida relevância.

Em todo o contexto apresentado, pode-se perceber uma escola enfrentando situações típicas do cotidiano escolar, onde a resolução delas perpassa pelos valores individuais de cada indivíduo presente na instituição, que por sua vez, segue a ideologia punitiva. Mas ainda assim, cada um tenta fazer sua parte nesse ambiente fluido e dinâmico, que é o ambiente escolar.

Cristina Barcelos Rodrigues Pinto
Enviado por Cristina Barcelos Rodrigues Pinto em 12/02/2020
Reeditado em 12/02/2020
Código do texto: T6864369
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