Carlitos no dia do pagamento

CARLITOS NO DIA DO PAGAMENTO
Miguel Carqueija

Resenha do filme “Dia do pagamento” (Pay day). First National, EUA, 1922. Produção, direção, roteiro e montagem: Charles Chaplin. Direção de fotografia: Roland Totheroh. Direção de arte: Charles D. Hall. Com Charles Chaplin (operário), Phyllis Allen (esposa), Mack Swain (capataz), Edna Purviance (filha do capataz), Sydnei Chaplin (amigo), Henry Bergman (companheiro de bar). Duração: 21 minutos. Em preto-e-branco. Música composta por Charles Chaplin (na reedição de 1973), com orquestração e condução de Eric Rogers.

Aqui Carlitos não é um vagabundo mas um operário de construção. São muitas as “gags” trazidas pela criatividade chapliniana, inclusive com o elevador de obras subindo e descendo (este simples elemento ocasionou bastante comicidade). E Edna Purviance, a bela atriz de tantas comédias de Chaplin, aqui aparece num papel secundário e dispensável, certamente arranjado para ela. E isso porque Carlitos dessa vez é um homem casado, mas com uma “jararaca” que acaba roubando muito das cenas finais.
Somente as “gags” fazem de “Dia do pagamento” uma comédia (como a cena em que Carlitos fura um pão duro com uma verruma para introduzir uma salsicha). Isso porque o enredo só mostra a vida miserável do protagonista: explorado, mal pago, mal alimentado, a megera da esposa ainda lhe confisca o pagamento à saída do trabalho. Não tendo filhos ele prefere abandonar a esposa na rua para ir beber. Isso trará péssimas consequências pois ao chegar em casa às cinco da madrugada já é hora de ir trabalhar. Sem dinheiro, sem descanso, sem amor, sem comida, sem nem mudar de roupa, lá vai o infeliz trabalhar, sob os xingamentos da esposa. É comédia ou tragédia? Chaplin sabia muito bem explorar o lado tragicômico da vida.

Rio de Janeiro, 24 e 25 de janeiro de 2020.