CORINGA (2019)
O diretor Todd Philips (da ótima trilogia SE BEBER NÃO CASE) se embrenhou por um terreno perigosíssimo ao realizar um filme 100% focado no Coringa, e sem um Batman para aparecer na hora certa e salvar o dia. Foi uma aposta muito arriscada nesses tempos em que o público parece estar necessitando de super-heróis, e ainda mais depois de fracassos com filmes de vilões, como ESQUADRÃO SUICIDA e VENOM. Mas, no final das contas, ele acertou, e acertou em cheio. CORINGA é um longa que explora o universo da DC COMICS como nenhum outro filme jamais explorou. É um Drama/Thriller carregado, denso, sem cenas de ação, e sem um final feliz. É um verdadeiro estudo de caso do vilão Coringa, coisa que nenhuma produção cinematográfica fez antes. Eu me lembro de ter visto algo parecido em A PIADA MORTAL, uma HQ do Batman escrita por Alan Moore, e só.
CORINGA se passa numa Gotham City oitentista, uma cidade suja, falida, tomada pelo caos, onde as instituições governamentais não mais funcionam. Nela vive Arthur Fleck, um sujeito seriamente perturbado, à beira de um surto psicótico. Ele almeja ser um astro da comédia, passa os dias planejando uma apresentação de stand up que pretende realizar um dia. Enquanto isso não acontece, Arthur segue a vida fazendo bicos como palhaço para sustentar a mãe doente. Depois de alguns acontecimentos violentos, ele mergulha de vez em sua loucura, algo que trará consequências terríveis para toda a Gotham City.
Joaquin Phoenix dá um verdadeiro show interpretando o Coringa. Ele some no personagem, você consegue ver até a alma do protagonista: um cara fodido, abandonado, que cresceu num ambiente familiar disfuncional, alguém que sofreu muitos abusos na vida. E mesmo se o filme não contasse isso, daria pra perceber no comportamento, na expressão corporal do ator. É uma interpretação soberba. Tem gente querendo comparar a performance de Joaquin Phoenix com a de Heath Ledger em O CAVALEIRO DAS TREVAS,de 2008, mas isso é uma coisa que não dá pra fazer, simplesmente porque são trabalhos diferentes, que não podem ser confrontados, sob pena de se fazer um julgamento absolutamente injusto. O Heath Ledger entregou um trabalho magnífico, porém obedecendo a mitologia do Coringa. O que Joaquin Phoenix faz aqui é algo bem diferente, é uma pegada mais psicológica, mais realista. Se fosse outro personagem qualquer, teria a mesma força, o resultado teria sido o mesmo.
A direção de Todd Philips é segura, e ele não cai na armadilha de tentar fazer com que o público simpatize com o protagonista. Prefere, acertadamente, seguir outro caminho e acaba criando uma brilhante alegoria sobre a violência urbana.
Coringa é um terror sócio-psicológico de responsa. Quem ainda não assistiu, assista. Pode ter certeza, você vai receber, de surpresa, um soco na boca do estômago.