Carlitos em meio às ninfas

CARLITOS EM MEIO ÀS NINFAS
Miguel Carqueija

Resenha da média-metragem “Sunnyside” (no Brasil, “Um idílio campestre”). First National, Estados Unidos, 1919. Produção, direção, roteiro e montagem: Charles Chaplin. Fotografia: Roland Totheroh. Direção de arte: Charles D. Hall. Com Charles Chaplin,Edna Purviance, Tom Wilson, Tom Terriss e Henry Bergman. Preto-e-branco, 28 minutos. Trilha sonora de Charles Chaplin acrescentada em 1974.

Uma das últimas películas curtas ou de média-metragem de Chaplin, produzida quando ele já se aprontava para se dedicar exclusivamente a filmes longos, “Sunnyside” (mais ou menos, “lugar ensolarado”) tem um desenvolvimento meio desequilibrado. Mostra um ajudante de fazenda (Carlitos, desta vez com emprego) cruelmente explorado pelo patrão, que o trata a pontapés (exagero muito frequente nas antigas comédias chaplinianas, recheadas de violência burlesca); mas a possível crítica social, que depois evoluiria nas longa-metragens, dilui-se ante a óbvia preguiça e acomodação do empregado. Depois ele ama uma garota (interpretada pela Edna Purviance, que durante umas quatro décadas participou da obra de Chaplin), mas seu romance apresenta uma série de quiproquós. Curiosamente, críticos da obra chapliniana enxergam detalhes maravilhosos em filmes que não me parecem tão entusiasmantes assim, como este mesmo. Parece que a sequência que mais chama a atenção é uma quebra do fio da meada: quando Carlitos, após uma queda, se vê envolto por uma alucinação sensual e alegre: cercado por quatro ninfas vestidas à grega, em túnicas curtas, finas e brancas, descalças, que o enfeitiçam numa dança saltitante. Logo porém ele desperta para a crua realidade de uma existência a pontapés.
Logo, a partir da obra-prima “O garoto” (1921), já em longa-metragem, Charles Chaplin alçaria vôos mais ambiciosos.

Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2020.