O filme da escuridão

O FILME DA ESCURIDÃO
Miguel Carqueija

Resenha do filme “A casa” (La casa muda). Tokyo Films, Uruguai, 2010. Produção: Gustavo Rojo. Direção e edição: Gustavo Hernández. História original: Gustavo Hernández e Gustavo Rojo, com base em fatos reais. Música: Hernan González. Roteiro: Oscar Estevez. Com Florencia Colucci (Laura), Abel Tripaldi (Nestor), Gustavo Alonso (Wilson) e Maria Paz Salazar (menina).
Primeiro filme uruguaio que eu assisto, “La casa muda” é diferente de tudo o que eu já vi, filmado quase o tempo todo na escuridão, só com iluminação de lampião e com uma sensação de perigo iminente e desconhecido acompanhando os hesitantes movimentos da protagonista Laura. Ela e o pai Wilson chegam a uma casa de campo a pedido de um amigo, Nestor, que pretende vender o local mas precisa que façam uma reforma. Pai e filha se prontificam a passar a noite no lugar e começar no dia seguinte os trabalhos. Em si o trato é muito estranho, mas dá origem ao drama. A casa não tem iluminação elétrica.
Este detalhe mostra que o roteiro é muito inteligente ou faltou dinheiro para as luzes e um cenário normal.
Quando Wilson sobre ao andar superior para verificar a origem de ruídos e aparentemente alguma coisa lhe acontece, começa a insólita jornada de Laura em plena escuridão, enxergando apenas o que a sua fraca luminária permite; e isso em cenas lentas, intermináveis e tensas, com gemidos de medo.
O filme porém caminha para uma reviravolta que só não esclarece tudo porque não convence, de tão inverossímil.
Nem as produções em preto-e-branco do cinema mudo e passadas à noite eram tão escuras. A atriz Florencia Colucci desempenha bem seu papel angustiante, aliás ela aparece sozinha na maior parte da projeção.

Rio de Janeiro, 20 e 21 de outubro de 2019.