Resenha crítica do filme O beijo no asfalto, de Bruno Barreto

O filme exibido em sala, dirigido por Bruno Barreto e protagonizado por Tarcísio Meira, Ney Latorraca e Cristiane Torloni, da década de 80, foi produzido ainda na época da censura, pois ainda era vigente o período militar e esse regime governamental censurava o que não era de seu interesse ou só era publicado pela imprensa o que lhe convinha com seu aval de acordo com suas ideologias.. O filme foi baseado numa peça do dramaturgo Nelson Rodrigues e como na maioria dos seus textos, explorava a repressão social, moral hipócrita e bloqueios sexuais, o drama mostra uma vida destruída por um jornal. Ao retrato da imprensa sensacionalista, mistura-se a análise do comportamento abusivo de alguns policiais.

Logo no início do filme, é mostrado a relação de interesse entre o repórter e a polícia. O personagem Pinheiro propõe que acompanhe o delegado nas investigações do atropelamento e, em troca, publique uma matéria favorável ao trabalho dele. Faria isso para compensar uma outra reportagem que denunciou tortura durante interrogatórios, então começa o drama dos interrogados pelo delegado, que assimila a versão de assassinato de Pinheiro.

Mesmo com o depoimento de Arandi de que não conhecia o morto e apenas tinha atendido a um pedido dele minutos antes de falecer, o jornal de Pinheiro publica que eram amantes e que foi assassinato. Isso sem ter prova nenhuma. Era a versão mais interessante para a Polícia e para o jornal. Além das agressões na delegacia, Arandi, sua esposa Selma e a cunhada Dália passam a toda hora por constrangimentos na vizinhança por causa das manchetes de Pinheiro. Arandi perde o emprego, acaba perdendo Selma também e ainda tem que fugir.

Vale ressaltar que não existe ética jornalística com os repórteres do filme, muito pelo contrário, eles são apresentados até de forma estereotipada. Eles transformam a história que quer ver estampada nos jornais em verdade sem e menor pudor ético. Chantageia fontes e assiste a todos os interrogatórios. Não apenas assiste, como interroga as testemunhas. E segue o estilo do delegado, praticando tortura psicológica contra Selma. Ultrapassa a função de repórter, publica denúncia sem provas, interfere no andar da investigação, ameaça testemunhas para que deponham na delegacia.

Patrick Sousa
Enviado por Patrick Sousa em 21/11/2019
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