"Nostalgia da Luz" e a reflexão deixada sobre a ditadura militar chilena.
O filme Nostalgia da Luz é um documentário reflexivo, em língua
espanhola, premiado no Festival de Cannes em 2010 e realizado pelo chileno Patricio Guzmán. O trabalho realizado teve como referencial o deserto do Atacama, no próprio Chile.
Atualmente, com sua vista privilegiada e límpida, o deserto do Atacama
possui muito investimento na área de pesquisa, talvez, por ter uma proximidade do céu, tendo ali perto diversas Universidades e ofertas de cursos, com os maiores telescópios do mundo e reunindo uma diversidade de cientistas com a vista de umas das imagens mais lindas do universo.
O longa-metragem usa o viés de que a humanidade deve conhecer mais
de si mesma, há muito a ser descoberto e analisado sobre passado e presente, e sua origem. O ser humano, diante da ciência, submete-se a passar horas contemplando as estrelas, perdendo dias e até mesmo anos com um telescópio para simplesmente não chegar a conclusão alguma e não saber nada dos cosmos.
Além disso, Guszmán afirma que o indivíduo que não tem memória, não
tem existência e, ante isso, traz de volta o tema da ditadura militar chilena, mostrando questões do passado e a necessidade de investigá-las no presente.
A ditadura de Augusto Pinochet foi um governo militar autoritário que
durou cerca de dezessete anos. Foi estabelecida depois que Salvador Allende, democraticamente eleito, foi derrubado por um golpe de Estado apoiado pela CIA e Estados Unidos. A intenção era neutralizar o crescimento de partidos e políticos de esquerda, como era o caso de Allende. O Brasil e outros países também tiveram ditaduras, mas a força dessa tragédia foi tão grande que é considerada uma das mais violentas ditaduras militares da América do Sul.
O documentário transmite um sentimento de tristeza sobre o passado,
uma verdadeira nostalgia, e impressiona os telespectadores, pois relaciona arqueologia e astronomia com a ditadura militar do Chile. É exposto no filme que pessoas procuram até hoje prisioneiros políticos da época do massacre, que foram enterrados ou jogados de helicópteros por militares, se não no mar ou na imensidão do deserto do Atacama. A obra, então, constrói um roteiro poético dos astros com os corpos dos desaparecidos durante o regime. Inclusive, há grupos de mulheres que realizam essas buscas até os dias de hoje.
Essa junção de demandas sociais, poéticas e científicas numa única
investigação quebra os paradigmas atuais de que a pessoa deve somente viver o presente, somos fruto do nosso passado e isso não pode ser deixado de lado. Cheio de analogias, o filme compara a inválida questão dos corpos, que não foram encontrados por inteiro, com o vago e distante conhecimento que temos do espaço, contendo uma relação de proximidade entre terra e céu.
Portanto, Nostalgia da Luz é, de fato, um excelente trabalho que convida à reflexão, principalmente para aqueles que buscam estudar profundamente sobre história, arqueologia, astronomia, e ciência numa única obra.