EL ALAMEIN – A LINHA DO FOGO

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Entre os dias 23 e 24 de Outubro de 1942, a El Alamein, uma localidade situada a 100 km a oeste do rio Nilo, teve início a maior batalha da Segunda Guerra Mundial em território africano. As forças britânicas podiam contar com 250.000 soldados apoiados por 1.500 tanques modernos e 1.500 aviões de combate enquanto as tropas do Eixo contavam com 120.000 soldados, 500 tanques e apenas 350 aviões. Essa desproporção era ainda mais acentuada pela superioridade inglesa em termos de artilharia (3 contra 1) e pela disponibilidade de quantidades praticamente inesgotáveis de carburante, enquanto o mesmo era escasso entre o alemães e os italianos.

Entre os vários filmes dedicados a essa histórica batalha, um dos mais importantes é o intitulado “El Alamein – A linha do Fogo” (2002) realizado sob a direção de Enzo Monteleone.

O filme começa com a viagem pelo deserto do soldado de infantaria Serra (Paolo Briguglia), um jovem voluntário universitário de Palermo, enviado para a frente do norte da África, onde chega bem aprumado e com grande espírito patriótico. Serra é designado para o 27º Regimento de infantaria, dependente da 17ª Divisão de Infantaria "Pavia", enquadrada no X Corpo de Armada do Exército italiano. Ele, como muitos de seus compatriotas que desconhecem a real situação das tropas na África, tem certeza de que a cidade egípcia de Alexandria será conquistada em breve e que a dura campanha do deserto será concluída vitoriosamente. Entretanto, logo descobre que a realidade da guerra no deserto é muito diferente da imaginada: o calor é insuportável, todos os soldados sofrem de disenteria, o armamento é inadequado, a comida é insuficiente, a água é racionada e poluída. Além disso, a artilharia do 8º Exército britânico castiga constantemente as posições italianas, suspendendo os bombardeios apenas apenas durante a noite. Serra toma imediatamente conhecimento do horror da guerra nas trincheiras quando uns tiros de artilharia matam o cabo que o acompanha à sua porção de trincheira, imediatamente depois de ter se apresentado ao comandante, o tenente Fiore (Emilio Solfrizzi). Naquele momento, ele é informado dos "três milagres", ou seja, das três possibilidades que, segundo os companheiros supersticiosos, cada soldado tem à sua disposição antes de morrer.

Nos raros momentos de paz, Serra faz amizade com alguns camaradas: Spagna (Luciano Scarpa), De Vita (Thomas Trabacchi), o operador de morteiro Tarozzi (Piero Maggiò) e, acima de tudo, o sargento Rizzo (Pierfrancesco Favino), um veterano vêneto que está em guerra ininterruptamente há dois anos; durante uma marcha, Rizzo conta como conseguiu escapar de um campo de prisioneiros e voltar para a frente sendo que "para um soldado não é bom ser prisioneiro". O sargento gosta do jovem voluntário e lhe ensina todos os comportamentos necessários para tentar sobreviver. Com efeito, todos já sabem que a grande ofensiva pela conquista de Alexandria, apesar do Alto comando ter enviado um monte de brilho para as botas dos oficiais e até do cavalo de Benito Mussolini (ansioso para conduzir o desfile da vitória), não haverá: as forças móveis estão extremamente inadequadas, os Deutsches Afrikakorps comandados pelo marechal de campo Erwin Rommel têm reservas limitadas de combustível e estão se preparando para recuar, os britânicos removem continuamente as bombas nos campos minados Italianos, sinal que uma contraofensiva está iminente.

Um dia o tenente Fiore envia Serra e Rizzo de patrulha numa localidade posta dentro da perigosa depressão de Qattara, mas quando os dois chegam às ruinas de um antigo forte só encontram as salmas da outra patrulha exterminada pelos ingleses A desilusão toma logo conta de Serra que, voltando às trincheias ao anoitecer, se depara com um intenso bombardeio britânico indicativo do início da ofensiva final. Oprimido pelo horror após o início da batalha decisiva de El Alamein em 23 de outubro, ele passa a considerar que "na escola eles ensinam: sortudos aqueles que morrem como heróis, mas os mortos não têm sorte nem azar, apenas morreram". A retirada das forças sobreviventes das divisões "Pavia", "Folgore" e "Ariete" é apresentada pelos oficiais obtusos como um simples "desengajamento", em vista de um novo avanço futuro; mas os soldados percebem que a frente já entrou em colapso e que foram deixados para trás sem nenhum meio de transporte, enquanto as forças alemãs e uma parte das italianas fogem para o oeste. Até os hospitais de campanha são forçados a aguardar a chegada dos britânicos para melhor tratar os feridos que não podem ser transportados. Depois que os últimos soldados da companhia do tenente Fiore são presos durante a noite, Rizzo e Serra permanecem para ajudar o oficial durante uma marcha desesperada a pé, através do deserto, para se juntar às grandes unidades ítalo-alemãs; no entanto, a ferida de Fiore, sofrida em um confronto anterior, não foi medicada e ele está enfraquecido ao ponto de não poder mais continuar. De comum acordo com Rizzo, ele obriga Serra a salvar a sua vida a bordo de uma motocicleta encontrada no local, mas que não pode carregá-los todos: o jovem soldado promete que voltará para resgatá-los e parte com a moto no deserto.

Apesar de tudo, o filme sobre a batalha de El Alamein narra a história duma derrota heroica com pesadas perdas infligidas ao inimigo, com soldados enfrentando tanques com garrafas incendiárias, com tanques italianos, que pareciam brinquedos, sucumbindo diante dos mais modernos meios ingleses. Quanto à divisão Folgore, que se tornou lendária, é citada neste contexto apenas casualmente. O diretor não se importa com o mito, mas com os pobres que largaram seus lares para ir combater no deserto. Numa das cenas, o sargento Rizzo diz: "Sinto falta dos prados atrás de minha casa", e ele fala de forma singela, sem banalidades e sem retórica, como um simples camponês italiano. No momento da pior desordem, o grupo caminha e caminha, sem destino e sem esperança, cansado da retórica belicista do regime fascista. Ao contrário, os ingleses lutam motivados e organizados. Após a batalha noturna, estamos nos dias atuais, no cemitério de El Alamein, com milhares de nomes e "desconhecidos" nos túmulos. Um homem pode ser visto por trás por um momento. Provavelmente é Serra, um sobrevivente.

Esse texto é dedicado ao meu falecido pai, veterano da batalha de El Alamein, onde foi gravemente ferido e mutilado. Possa ele repousar em paz longe do fragor das armas.