FAHRENHEIT.451

Que incinerem toda dualidade do mundo, do mundo inteiro.

Para um homem ser feliz, não deve haver dúvida, questionamento. Tem que ter uma certeza absoluta, um Uno ou melhor, um Zero. Nos diálogos de Sócrates haviam dúvidas, ele mesmo se questionava em relação ao seu conhecimento: “Sei o que nada sei.”. Mas ele não fica só, na matemática o ‘zero absoluto’ é inviável no tempo em que conhecemos. Na religião se formaram legiões de deuses, semideuses, anjos e demônios para tentar conseguir a perfeição. Na biologia criaram-se o ser perfeito: Adão, mas não o deixou só. Na história foram mausoléus, pirâmides, chuvas de fogo, cataclismos, debates em Ágora...

Incineraram a Biblioteca de Alexandria: foi por medo da verdade ou da mentira?

Fahrenheit.451 me mostrou a utopia em seu lado mais generoso, humano, terapêutico. Me fez pensar que as escolhas sempre foram a maldade, o inferno, o demônio em sua plenitude. David Chalmers, filósofo, sugere "que uma teoria da consciência deve tomar a noção de experiência consciente como sendo um primitivo", isto me leva a um raciocínio lógico: somos animais, mais as teorias. Essa ideia no filme é uma distopia; a mente, o pensamento, o paradoxo são totalmente nocivos ao bem comum. Anular esse mal é algo totalmente necessário. Alguém suicida, não é porque perdeu o emprego, ou a namorada, ou não consegue pagar as contas. Alguém suicida por vergonha do que os ‘outros’ vão falar ou pensar. Alguém faz o bem não é porque é generoso por si só, mas porque esse ato vai agradar ao seu deus, ao seu orientador espiritual, ao seu amigo, vizinho, colega de trabalho. Então, vivemos em função de terceiros, ou segundos, sei lá; e raramente vivemos em função da nossa consciência primitiva. Ficou fácil...

Incinerem os livros!

Para concluir, eu quero voltar num tema que é muito inerente no filme: as escolhas. Eu não vi ‘certo ou errado’ em nenhuma das escolhas. Eu percebi que cada lado, já que tudo no universo humano é dessa forma, tinham suas razões. No livro de Umberto Eco – O Nome da Rosa - , retrata muito bem o poder que o conhecimento tem de transformar; até mesmo em uma revolta, um riso, uma tragédia. Coibir isso sempre pareceu a ‘coisa mais lógica’ de quem tem o poder. E muitas vezes somos, incluo-me, conviventes com o comodismo, o egoísmo, a falta de interesse na dor de quem caminha com a gente, todos os dias, na mesma faixa da rua. Não sou utópico, mas gostei do que Fahrenheit.451 me fez pensar, pensar no que realmente eu quero. Mas de uma coisa eu tenho certeza...

Sobraram muitos livros para ler.

All Xavier
Enviado por All Xavier em 21/09/2019
Reeditado em 21/09/2019
Código do texto: T6750069
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