CANAAN episódio 1: o festival da morte

CANAAN episódio 1: o festival da morte
Miguel Carqueija

Começa aqui o guia de episódios do mini-seriado japonês de animação “Canaan” (2009) do Estúdio PAWorks. Em treze capítulos, “Canaan” é uma das mais extraordinárias mini-séries já feitas, em seu enredo insólito, contundente e comovente. Focaliza a trágica heroína Canaan, uma jovem dotada de poderes sinestésicos (a mistura entre os sentidos que lhe confere uma percepção excepcional da realidade) e habilidades de ninja, que carrega em si o tremendo fardo da vida que lhe foi imposta. É a história triste, trágica e violenta que fala na guerra entre duas mulheres, Canaan e Alphard, órfãs que foram criadas juntas por um homem que as treinou para serem guerrilheiras e mercenárias e que depois se separaram, passando a trilhar caminhos diferentes e opostos. É a história de uma personagem que cultiva bons sentimentos mas não pode evitar ser violenta no mundo violento em que ela vive e sobrevive.
“Canaan” começa com alguma reminiscência e palavras que lembram o destino trágico da protagonista. Mostra um festival na cidade chinesa de Xangai, um desses carnavais chineses com carros alegóricos de dragões. Dois repórteres ocidentais, Mino (Minoru Minorikawa) e Oosawa Maria (esta como fotógrafa), lá estão para cobrir o evento. Mas em meio à multidão eles se perdem mutuamente e constatam que pessoas estão sendo mortas a bala, porém em meio à balbúrdia e mascarada, parece que as demais pessoas não entendem ou, como conclui Mino, não querem acreditar no que está acontecendo. Então, indecisa e perplexa, Maria de repente é agarrada pelo braço e forçada a correr desabaladamente acompanhando Canaan, que se esforça para tirá-la daquele ambiente perigoso: “O que você está fazendo aqui?” A cena é vertiginosa e finalmente Canaan deixa Maria (fica claro que elas já se conheciam e eram amigas) escondida num cubículo qualquer, e amarrada para não se expor ao perigo. Canaan ata Maria pelos polegares com as mãos para trás (técnica oriental de imobilização), utilizando uma cordinha que a fotógrafa empregava no jogo da “cama-de-gato”.


Resenha do episódio 1 (Xangai escarlate) do seriado japonês de animação “Canaan” (Kanan). Estúdio PAWorks, 2009. Criação de Kinoto Nasu e Takashi Takeuchi com base em seu jogo “428: Shibuya scramble”. Direção: Masahiro Andõ. Produção: Hiroshi Kawamura, Jiro Ishii, Kei Fukura, Kenji Orikawa, Shigeru Saitõ, Yaswhi Õshima. Roteiro: Mari Okada. Música: Hikaru Nanase.
Elenco de dublagem original:

Canaan..................................Miyuki Sawashiro
Alphard al Sheya...................Maaya Sakamoto
Oosawa Maria.......................Yoshino Nanjo
Minoru Minorikawa (Mino)...Kenji Hamada
Siam.......................................Akio Õtsuka
Liang Qi..................................Rie Tanaka
Yunyun...................................Haruka Tomatsu
Cummings..............................Toru Okawa
Santana..................................Hiroaki Hirata
Hakko.....................................Mamiko Noto
Yuri Natsume.........................Junko Minagawa
Kenji Oosawa.........................Atsushi Ono
Jin (taxista).............................Joji Nakata


“Eu arbitrariamente cortei os meus laços para trazer o julgamento até você.”
(do tema musical da abertura, sugere que Canaan pretende levar o seu "julgamento" a Alphard, que a traiu e assassinou o homem que foi o mestre de ambas; a luta entre as duas se estenderá por todo o seriado)

“Canaan, você é uma vítima cujo passado foi levado pela guerra. E ela é uma pessoa que foi derrotada pelo esforço do passado. Os soldados que nasceram em meio à destruição carregam o ódio como suas armas. Mesmo que você e ela tenham se tornado soldadas pelas mesmas razões, ambas vivem vidas diferentes. Ouça, Canaan: você não pode contra-atacar ódio com ódio, nunca. Mesmo que você use esse poder para aniquilar seus oponentes, o seu ódio não irá diminuir enquanto estiver presa pelo ódio. Você é diferente de nós.”
(introdução do seriado; supostamente seriam palavras de Siam, mentor de Canaan e Alphard e morto por esta última, por traição, originando-se o cisma Canaan/Alphard)

“Eu acredito que existem muitas coisas nesse mundo que as pessoas não viram. Bem, acho que se existe mesmo algo que você queira ver, então você pode ver. Se você não enxergar é porque não quer. Porque se você usar seus olhos para ver, pode ser doloroso e triste.”
(Oosawa Maria)

“A Canaan ainda está viva. A sua existência é tão brilhante... brilhante demais para podermos olhar diretamente para ela.”
(Oosawa Maria)

“Por favor, não olhe mais para o meu pecado.”
(da canção-tema do encerramento dos episódios)



A introdução de Canaan na história é sensacional e apoteótica. Pulando entre os prédios, em precário equilíbrio, disparando a sua arma Beretta Px4, usando calças compridas e blusa sem costas, Canaan surge como um super-ser, valendo-se do seu poder de sinestesia, enfrentando matadores infiltrados na festa popular. Enquanto isso Alphard é presa pela CIA, mas logo os agentes da Cobra (organização terrorista à qual ela pertence) tratam de resgatá-la. Por que e para que lutam, não fica claro logo de início. Todavia, a espécie de veneração que Maria tem por Canaan atrai simpatia para com a mercenária, que trabalha para a misteriosa agente japonesa Yuri Natsumi. Maria é uma moça sorridente, algo infantil, otimista e bondosa, que admira Canaan mesmo sabendo que a amiga se move num mundo que para ela, Maria, é vedado. Um mundo onde existem morte violenta, sangue, traição e ódio.
Maria, porém, sabe que Canaan não é assim.

Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2019.

(imagens: no alto, Canaan e Maria, a amiga inocente que a humaniza; embaixo: Alphard, a vilã absoluta, ex-companheira e agora inimiga implacável de Canaan)