BICHO DE SETE CABEÇAS (2000)

Imagine-se internado num manicômio sem ter qualquer problema mental, impedido de fazer qualquer contato com familiares e amigos e ainda sofrer torturas físicas e psicológicas. Esse é o tema de BICHO DE SETE CABEÇAS, produção nacional de 2000, que mostra o retrato assustador do sistema manicomial no Brasil.

Baseado no livro CANTO DOS MALDITOS, de Austregésilo Carrano Bueno, e dirigido pela então estreante diretora Laís Bodanzki, BICHO DE SETE CABEÇAS conta a história de Neto (Rodrigo Santoro), um jovem de classe média baixa, introvertido, e que tem dificuldade de comunicação com a família, principalmente com o pai, Seu Wilson (Othon Bastos), com quem mantem um relacionamento extremamente conturbado. Um belo dia Seu Wilson encontra um cigarro de maconha no casaco de Neto, e então resolve interná-lo num hospício, acreditando que assim conseguiria curar o filho do vício das drogas. Na Instituição, teoricamente uma das melhores da cidade, Neto se vê obrigado a passar por situações pra lá de humilhantes. Tendo que conviver com pacientes portadores de transtornos mentais em estágios avançados, e ingerindo medicamentos de ação anestésica sem qualquer avaliação médica, o jovem se vê mergulhado numa realidade desumana, repleta de emoções e horrores inimagináveis. Lá pelas tantas, por exemplo, depois de tentar fugir e ser recapturado, Neto é submetido, como punição, a uma torturante sessão de eletrochoque.

Um dos grandes méritos do filme é não minimizar a personalidade forte do protagonista. Neto é um jovem difícil de se lhe dar, rebelde, com dificuldade de se adaptar às regras impostas pela sociedade. Por meio de uma fotografia realista, a diretora conseguiu dar a BICHO DE SETE CABEÇAS um aspecto densamente documental. O ótimo desempenho dos atores, como Cássia Kiss, vivendo a mãe de Neto, Othon Bastos, Gero Camilo etc, ajuda a tornar o filme bastante verossímil, o que faz com que a experiência de assisti-lo seja impactante, perturbadora e revoltante. É bom lembrar que o sistema manicomial no Brasil não é mais assim, ele está mais humanizado, porém filmes como BICHO DE SETE CABEÇAS nos fazem refletir sobre como as instituições psiquiátricas, antigamente, coisificavam o ser humano com práticas absurdas que, longe de serem terapêuticas, só prejudicavam os seus internos, não só mentalmente, mas também fisicamente.

Bia Borges
Enviado por Bia Borges em 21/08/2019
Reeditado em 21/08/2019
Código do texto: T6725641
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.