"The Mule"

The Mule




A coisa mais divertida ao brincar nessa pseudo resenha é olhar para o panorama do desdobramento e constatar que nada dessa apreensão foi colhida em catálogos de informação. Colocando de outra forma: isso não foi aprendido num livro.

O referido desdobramento enfoca o artista em questão: Clint Eastwood, como ator e diretor.

Então, numa breve reflexão desfila na mente "Por um Punhado de Dólares” (1964), "Por uns Dólares a Mais” (1965), "Meu Nome é Coogan” (1968), aí nos anos 70 "Josey Wales”, “Alcatraz”", etc., sim os Dirty Harry, o criador já havia adquirido uma forma e se tornado um ente no circuito. Nada que se levasse muito a sério, a lista é grande, até que, em 1988, o mundo conhece “Bird”, história do lendário saxofonista Charlie Parker. Nesse ponto, o diretor Clint Eastwood causou um estremecimento, um oohh, um ops, três prêmios sérios, Oscar, Cannes, Globo de Ouro. Pode parecer esdrúxulo, mas é como se de repente o Ronald Golias aparecesse tocando violoncelo.

E o desdobramento dos anos 90 começa a deslumbrar. Em 1993 ele faz um strike na Academia com “Os imperdoáveis". Um filme que sinceramente nunca me seduziu. Logo após ele lança "Um mundo perfeito” e “As Pontes de Madison”. Dois trabalhos em que atua e dirige.

No século XXI, insistindo e incrementando a metáfora, repare, “Sobre meninos e lobos”, “Gran Torino”, “Menina de ouro”, ora, é como se o Ronald Golias aparecesse tocando violoncelo igual ao Yo-Yo Ma.

Seu penúltimo filme, "15h17 - Trem Para Paris”, que passou batido pela mídia e pelos palpiteiros, neguim ainda desceu a lenha dizendo que faltava brilho e ação, sei lá, assim é se lhe parece, vi como uma tremenda homenagem a 3 rapazes que pouparam a humanidade de mais uma infâmia pavorosa.

Por nada não, precisa ter uma expandida capacidade de talento para manter afinadíssimo esse vigoroso instrumento de comunicação chamado cinema. Especialmente aos 88 anos.

O Clint que você vai ver em "The Mule” é um velhinho desses que a gente se depara diariamente nas diversas filas e nalgumas praças. Com a diferença de que o velhinho em questão produz, dirige e atua. Ele interpreta outro ancião, que subiu com 92 anos em 2016 chamado Leo Sharp. Mas quando tinha 88, 89 anos, carregava no porta malas do seu veículo, uma viagem de cada vez, respeitosa parada de cocaine para a josta do cartel de Sinaloa.

De ante mão dá para concluir não se tratar de uma grande história, e, se tampouco este não se enquadra na categoria de um grande filme, o mesmo tem na veia o selo de garantia Clint Eastwood, a câmera dele funciona em qualquer tempo, diferente de muito trambiqueiro cujas lentes parecem ter contraído excêntricos fungos.

O longevo Leo Sharp antes de mais nada era um indivíduo dono de suas faculdades. Faltou-lhe recursos materiais e o destino lhe apresentou uma possibilidade de ganhos. Lá lá ri lá, tudo na vida tem um preço.

Clint, agora quase nonagenário, construiu um leque do tamanho de um arco-íris. Não deixa de ser uma aventura contemplar o arco em toda a sua extensão.

Embora uma coisa não tenha nada a ver com a outra, exceto talvez pela individualidade que tanto tentam nos surrupiar, fechamos com citação de um decano cujos feitos dariam um filmaço: Aterrorizados por um velhinho que os espreme na parede com argumentos irrespondíveis, comandantes militares, deputados, senadores, mega-empresários, donos de empresas de mídia, todos juntos, têm de inventar por trás dele alguma mega-organização estrangeira, para camuflar a vergonha sem fim do seu acovardamento ante um mero cidadão privado. (Olavo de Carvalho).
 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 07/05/2019
Reeditado em 20/02/2020
Código do texto: T6641380
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