DEIXE ELA ENTRAR (2009)
Sem sombra de dúvida os vampiros são personagens, no gênero terror, dos mais explorados e exaustivamente retratados pela indústria cinematográfica, isso sem falar dos gibis, livros, séries, novelas, etc. Quando a gente senta pra assistir a um filme com os chupadores de sangue, já dá pra adivinhar, mais ou menos, o que vamos ver, ou seja, muitas artérias perfuradas por dentes pontiagudos e uma historinha mequetrefe pra justificar a matança. É claro que existem algumas exceções, e DEIXE ELA ENTRAR, produção sueca de 2009, é uma delas.
A trama acompanha Oskar (Kare Hedebrant), um solitário garoto de 12 anos, morador de um subúrbio de Estocolmo, e que sofre bullying frequente na escola, inclusive com agressões físicas. Apesar da raiva que sente, ele nunca reage. Um belo dia, enquanto brinca no pátio de seu prédio, Oskar conhece Eli (Lina Leandersson), uma menina pálida e solitária, também com 12 anos, recém-chegada na vizinhança com seu suposto pai. Lina e Oskar logo se tornam bons amigos, apesar da resistência inicial dela. Paralelamente começam acontecer sangrentos assassinatos em que o sangue das vítimas é totalmente drenado. Eli está envolvida com essas mortes de uma forma que Oskar jamais poderia sequer imaginar.
Baseado no Best seller de Jonh Ajvide Lindqvist, autor também do roteiro, DEIXE ELA ENTRAR é um filme de vampiro com uma pegada totalmente diferente. Há alguns clichês próprios do subgênero, mas que são utilizados de uma forma singular e inteligente. Aqui, por exemplo, é possível saber, pela primeira vez na história do cinema, o que acontece a um vampiro quando ele entra numa casa sem ser convidado. Na verdade o aspecto vampiresco da trama é muito mais coadjuvante do que se possa pensar. A história é embasada profundamente no psicológico dos protagonistas, e toma dimensões que vão muito além do que já foi feito até hoje. DEIXE ELA ENTRAR não é senão uma metáfora dos conflitos internos por que passam os adolescentes, da sua lida com as descobertas e inseguranças, próprias dessa fase tão conturbada da vida. Tomas Alfredson dá um show na direção. Ele brinda o espectador com ângulos de câmera que são verdadeiras pinturas, e a ótima fotografia contribui muito pra esse belo resultado visual. Os dois atores mirins, Lina e Kare, dão um baile na interpretação. São melhores que muitos adultos que atuam por aí. O ritmo é lento, quase parando, por isso não é recomendado para aqueles que gostam de filmes descerebrados, de apelo comercial, onde tudo acontece de modo acelerado. Mas não se engane, a carga de violência é grande, portanto o espectador não é poupado de algumas cenas perturbadoramente sangrentas, afinal DEIXE ELA ENTRAR é antes de tudo um filme de horror, mas um horror de alto nível.