Ontem assisti A forma da água e O rei do show. Poderia ter sido mais uma noite de insônia, mas tive momentos de rara beleza e reflexão.
Apesar de serem gêneros diferentes, notei várias semelhanças na mensagem de ambos. Trata-se de filmes com forte impacto visual, onde nada é por acaso e o ser humano foge da mesmice dos protagonistas de sempre. No final, cada um decide o ponto de vista que se sente mais atraído, são tantas militâncias que o difícil é optar por apenas uma.
Vamos começar pela A forma da água. Nossa mocinha é muda, pouco bonita, pouquíssimo mesmo. Ainda assim tem um carisma apaixonante, leva uma vida ordinária, de uma mesmice angustiante. Eliza é faxineira, a companheira de trabalho é negra; protetora, fiel e igualmente resignada.
O único amigo de Eliza é um vizinho que passa a vida desenhando, um artista desempregado. Juntos assistem musicais na televisão; arriscam um sapateado sentados no sofá e comem torta de limão siciliano. A confeitaria e o cinema do bairro merecem atenção, dizem muito sobre a sociedade em que os personagens transitam. De um preconceito doloroso; cenas ligeiras e diálogos curtos.
A solidão de Eliza Esposito, nossa mocinha muda, é triste, tão triste quanto a masturbação cronometrada pelo temporizador. Sim, dia após dia durante o banho, ela se toca enquanto os ovos cozinham. Eliza prepara o lanche que leva para o trabalho em um centro militar secreto, o cardápio são ovos cozidos; e são com eles que ela conquista a criatura na água. O filme é todo conectado, feito uma colcha de retalhos, a trama é bem amarrada e nada é aliatório. Para quem gosta de ligar pontos é um desafio, pouco a pouco vamos desvendando os segredos.
A riqueza de detalhes compõem uma história surreal, com direito a trilha musical muito doida, até Carmen Miranda faz parte. Tem espiões russos, amigas unidas pela adversidade, cientistas escrupulosos e todo tipo de gente.
O que me chamou atenção foi o amor entre Eliza e a criatura da água, um ser estranho capturado nas profundezas de uma lagoa da América do Sul. Seria da Amazônia? Onde a forma, era considerada um Deus. Criatura ou criaturas, que não se encaixavam no mundo convencional, que de alguma forma se apaixonaram, é muito inspirador. Vale a pena assistir, só para atiçar a curiosidade Eliza e a forma da água fazem sexo; e como fazem! São cenas lindas, que já valem o filme inteiro. Pura poesia.
O segundo filme, é com meu ator favorito, Hugh Jackman; adorável no papel de mestre de cerimônias de um circo de aberrações. O personagem pode não ter tido uma idéia politicamente correta, afinal a intenção era unir criaturas excêntricas em um espetáculo rentável. No decorrer da história nosso empresário acaba se afeiçoando e aprendendo a ter mais compaixão. Mas no finalzinho mesmo.
O elenco é talentoso, as canções atuais, e o personagem de Jackman realmente existiu. Foi pioneiro no ramo do circo nos Estados Unidos, nasceu pobre, miserável, e usou as deformidades dos excluídos para montar uma troupe e ganhar notoriedade. Houve críticas, disseram que as canções eram fracas e a história inconsistente. Discordo, sou fã do eterno Wolverine em qualquer papel.
No mais, todos os dias vejo nas manchetes algo semelhante, o que comprova a teoria que muitas vezes a vida imita a arte. Neste momento estamos todos preocupados com exclusão social, violência, sustentabilidade; mas estes temas são recorrentes. O que torna a arte tão íntima, é a capacidade de traduzir a emoção, representar nossos desejos e sonhos. Por um instante fui Eliza bailando com a estranha forma de escamas azuis, a cantora barbada, a trapezista de cabelos rosa; fui um pouco cada personagem e renovei a inspiração.
Dois grandes momentos do cinema que apresentam a indiferença, o preconceito e a delicadeza dos rejeitados; e a completa intolerância que continua cada dia mais presente. Ainda é um fardo grande demais não ser igual à maioria; não ser ''normal'' ainda incomoda.
Continuam jogando pedra, queimando e matando quem ousa ser diferente. Neste caso, é triste assistir a realidade repetindo o padrão da ficção apresentada. Espero que as mudanças aconteçam, que o ato de acolher não seja uma concessão.
Não é incrível a magia do cinema?
Apesar de serem gêneros diferentes, notei várias semelhanças na mensagem de ambos. Trata-se de filmes com forte impacto visual, onde nada é por acaso e o ser humano foge da mesmice dos protagonistas de sempre. No final, cada um decide o ponto de vista que se sente mais atraído, são tantas militâncias que o difícil é optar por apenas uma.
Vamos começar pela A forma da água. Nossa mocinha é muda, pouco bonita, pouquíssimo mesmo. Ainda assim tem um carisma apaixonante, leva uma vida ordinária, de uma mesmice angustiante. Eliza é faxineira, a companheira de trabalho é negra; protetora, fiel e igualmente resignada.
O único amigo de Eliza é um vizinho que passa a vida desenhando, um artista desempregado. Juntos assistem musicais na televisão; arriscam um sapateado sentados no sofá e comem torta de limão siciliano. A confeitaria e o cinema do bairro merecem atenção, dizem muito sobre a sociedade em que os personagens transitam. De um preconceito doloroso; cenas ligeiras e diálogos curtos.
A solidão de Eliza Esposito, nossa mocinha muda, é triste, tão triste quanto a masturbação cronometrada pelo temporizador. Sim, dia após dia durante o banho, ela se toca enquanto os ovos cozinham. Eliza prepara o lanche que leva para o trabalho em um centro militar secreto, o cardápio são ovos cozidos; e são com eles que ela conquista a criatura na água. O filme é todo conectado, feito uma colcha de retalhos, a trama é bem amarrada e nada é aliatório. Para quem gosta de ligar pontos é um desafio, pouco a pouco vamos desvendando os segredos.
A riqueza de detalhes compõem uma história surreal, com direito a trilha musical muito doida, até Carmen Miranda faz parte. Tem espiões russos, amigas unidas pela adversidade, cientistas escrupulosos e todo tipo de gente.
O que me chamou atenção foi o amor entre Eliza e a criatura da água, um ser estranho capturado nas profundezas de uma lagoa da América do Sul. Seria da Amazônia? Onde a forma, era considerada um Deus. Criatura ou criaturas, que não se encaixavam no mundo convencional, que de alguma forma se apaixonaram, é muito inspirador. Vale a pena assistir, só para atiçar a curiosidade Eliza e a forma da água fazem sexo; e como fazem! São cenas lindas, que já valem o filme inteiro. Pura poesia.
O segundo filme, é com meu ator favorito, Hugh Jackman; adorável no papel de mestre de cerimônias de um circo de aberrações. O personagem pode não ter tido uma idéia politicamente correta, afinal a intenção era unir criaturas excêntricas em um espetáculo rentável. No decorrer da história nosso empresário acaba se afeiçoando e aprendendo a ter mais compaixão. Mas no finalzinho mesmo.
O elenco é talentoso, as canções atuais, e o personagem de Jackman realmente existiu. Foi pioneiro no ramo do circo nos Estados Unidos, nasceu pobre, miserável, e usou as deformidades dos excluídos para montar uma troupe e ganhar notoriedade. Houve críticas, disseram que as canções eram fracas e a história inconsistente. Discordo, sou fã do eterno Wolverine em qualquer papel.
No mais, todos os dias vejo nas manchetes algo semelhante, o que comprova a teoria que muitas vezes a vida imita a arte. Neste momento estamos todos preocupados com exclusão social, violência, sustentabilidade; mas estes temas são recorrentes. O que torna a arte tão íntima, é a capacidade de traduzir a emoção, representar nossos desejos e sonhos. Por um instante fui Eliza bailando com a estranha forma de escamas azuis, a cantora barbada, a trapezista de cabelos rosa; fui um pouco cada personagem e renovei a inspiração.
Dois grandes momentos do cinema que apresentam a indiferença, o preconceito e a delicadeza dos rejeitados; e a completa intolerância que continua cada dia mais presente. Ainda é um fardo grande demais não ser igual à maioria; não ser ''normal'' ainda incomoda.
Continuam jogando pedra, queimando e matando quem ousa ser diferente. Neste caso, é triste assistir a realidade repetindo o padrão da ficção apresentada. Espero que as mudanças aconteçam, que o ato de acolher não seja uma concessão.
Não é incrível a magia do cinema?