A FALECIDA
Adaptação da peça teatral homônima de Nelson Rodrigues, A FALECIDA, de 1965, possui alguns dos ingredientes que são a marca registrada da obra rodrigueana, a saber, traição; conservadorismo moral; misticismo e a condição de inferioridade da mulher numa sociedade cada vez mais machista e hipocritamente moralista.
A trama acompanha Zulmira (Fernanda Montenegro, em seu primeiro trabalho no cinema), uma mulher casada, corroída pelo tédio, pela culpa e pelo desejo de morte. Numa consulta a uma cartomante, ela fica sabendo que existe uma loira que a odeia, e que é uma ameaça à sua vida. Zulmira, então, passa a desconfiar que sua prima e vizinha seja a tal loira. Mal de saúde, ela faz os preparativos para o seu funeral, e depois convence o marido desempregado, Toninho (Ivan Cândido), a ir pedir dinheiro a um tal de João Guimarães Pimentel (Paulo Gracindo) para pagar as despesas do enterro. O que Toninho nem imagina é que João e Zulmira guardam segredos que irão destruir completamente todos os alicerces de sua vida.
Dirigido por Leon Hirszman e filmado em P&B, A FALECIDA foi um completo fracasso de público, talvez por ter sido lançado durante o carnaval. Nelson Rodrigues, que acompanhou as filmagens de perto, não gostou do filme por achá-lo seco e triste, e passou mesmo a odiá-lo depois do fracasso de bilheteria, uma vez que tinha empregado muito dinheiro na produção. O fato é que A FALECIDA é considerado uma das melhores adaptações já feitas de uma obra de Nelson Rodrigues. Com boas atuações, principalmente de Ivan Cândido e Fernanda Montenegro, cuja personagem protagoniza uma das cenas mais emblemáticas do cinema brasileiro (vídeo abaixo), é um filme com uma visão mais crua, menos intelectualizada da classe média baixa da época. Apesar de ter sido, lamentavelmente, ignorado pelo público, preocupado que estava com os festejos carnavalescos, A FALECIDA é inegavelmente um dos grandes êxitos artísticos do nosso cinema.