CORAÇÃO SATÂNICO (ANGEL HEART 1987)

Numa rua escura, com o chão coberto de neve, repleta de prédios negros e sombrios, um vulto caminha tranquilamente enquanto, do solo, emana uma estranha fumaça que intensifica o ar sinistro do lugar. Próximo dali um cachorro late furiosamente para um gato que, sem se abalar, só o observa, uma vez que está, comodamente e em segurança, num ponto mais elevado, no alto da escada de um dos prédios. O cão desiste do felino e percorre a rua até se deparar com um corpo caído, próximo à calçada. O animal se aproxima e começa a lamber a poça de sangue que se formou do cadáver.

Essa cena inicial já dá uma prévia do que é CORAÇÃO SATÂNICO: um filme denso, pesado e angustiante, com o que de melhor pode haver na composição de um horror psicológico. A história nos mostra Harry Angel (Mickey Rourke), detetive particular que é contratado por um cliente misterioso, Louis Cyphre ( Robert De Niro), para encontrar um cantor, desaparecido após a 2ª guerra. Harry inicia as investigações, mas quanto mais ele se aprofunda mais distante da verdade fica. No processo, ele acaba se envolvendo com um mundo místico que não entende, e se deparando com cadáveres ensangüentados que vão se amontoando ao longo de sua jornada.

CORAÇÃO SATÂNICO foi magistralmente dirigido e escrito por Alan Parker que, aliás, acumula bons trabalhos em seu currículo. O diretor utilizou-se, habilmente, de símbolos e imagens emblemáticas para contar uma história relativamente simples, mas de nenhum modo vazia. Os estilos noir e terror foram bem dosados, produzindo um ótimo resultado. A atuação de Mickey Rourke, como o detetive Harry Angel, está perfeita. Nessa época ele era considerado um dos maiores galãs de Hollywood. Hoje está com o rosto meio que desfigurado devido às cirurgias que fez para corrigir os estragos causados pelos socos que levou nos rings, quando era boxel. Robert De Niro só aparece duas ou três vezes durante o filme, mas quando o faz rouba a cena. Seu personagem consegue deixar o espectador tenso com o simples ato de descascar um ovo. Há ainda a boa presença de Charlotte Rampling e a sensualidade de Lisa Bonet. CORAÇÃO SATÂNICO foi alvo de severa crítica por causa da cena de sexo entre Rourke e Lisa, considerada muito ousada na época, e por abordar questões como iconoclastia e magia negra, temas bastante melindrosos nos anos 80.