"Amar" de Esteban Crespo
Acabei de assistir ao filme Amar do espanhol Esteban Crespo e estou impactada e reflexiva - acho que essas são as melhores palavras para descrever como me sinto neste exato momento - com todo o contexto da história. Tentando justificar melhor esse sentimento, senti a necessidade de externá-lo em palavras que vagueiam pelo meu labirinto cerebral.
Acontece que o filme retrata a história do casal Laura e Carlos, os quais se encontram no ápice da sua paixão. Diferentemente do que observamos na maioria dos filmes de romance, que apresenta uma narrativa gradual, pautada, basicamente, no encontro de dois indivíduos que se conhecem e vão, aos poucos, se encantando um pelo outro, "Amar" se inicia de maneira totalmente diferente: os dois já repletos de paixão e ternura. Cenário típico de um relacionamento adolescente contemporâneo, no qual mergulhamos de cabeça, a qualquer custo (a qualquer custo mesmo). Prova disso é que os dois se envolvem, de tal maneira, mesmo nem se conhecendo tão bem - há uma parte do filme que discorre sobre.
Os dois, Laura e Carlos, vivenciam o seu primeiro grande amor juntos e vão tentando se descobrir ao longo do filme, mas com bastante intensidade na sua relação. Todavia, como em todo relacionamento, começam a ocorrer desentendimentos e brigas, os quais revelam um outro lado dos personagens que não nos faz ter muito apreço pelos mesmos: da parte do Carlos, a sua possessividade, ciúmes e atitudes machistas inconvenientes; da parte da Laura, com uma confusão interna marcante a respeito de não saber o que fazer/esperar do seu relacionamento. São passagens aflitivas. E isso, obviamente, afeta o que eles vivem juntos.
A questão é que "Amar", talvez, se mostre como um panorama totalmente despido do que é hoje a relação para os sujeitos que tentam lidar com os seus amores, partindo de muita praticidade e sem perda de tempo. É possível se apegar tão rápido e se desapegar na mesma frequência. As vidas tornaram-se descartáveis e isso se encaixa perfeitamente na liquidez que Bauman bem elucida. O estado líquido de tudo e, principalmente, das paixões atualmente. O “eu te amo” é vazio, porém tão cheio simultaneamente.
Em suma, o filme é excelente, com uma cinematografia ótima, surpreendente e oferece uma outra percepção - bem realista - sobre como encaramos o relacionamento, destacando a fase da juventude, na qual tudo é sentido de forma muito mais intensa, como se fosse o último respiro. É um excelente roteiro para nos fazer refletir sobre todos esses pontos que abordei levemente.
Claro, assim como li em outra resenha, isso vai depender, intrinsecamente, do momento pessoal em que você, leitor(a), estará vendo esse filme. O olhar é subjetivo e precisa de um instante bem resolvido e de bem-estar consigo mesmo(a), eu diria. Só tenho a agradecer ao Esteban, aos protagonistas, María Pedraza e Pol Monen, ao elenco e à produção pelo belíssimo trabalho.