Obsessões de uma mente doentia

Sempre nos surpreendemos como fato de que há mentes doentias, capazes dos atos mais inexplicáveis e monstruosos e temos essa sensação ao assistir ao ótimo filme A vítima perfeita (2009). Filmado na Austrália e baseado em uma triste e chocante história real, o filme conta a história do desaparecimento de Rachel Barber, de 15 anos, e da busca desesperada dos seus pais por seu paradeiro.

O filme tem um grande elenco: Guy Pearce, Miranda Otto, Sam Neill e Ruth Bradley. Embora não seja contado de forma linear, é perfeitamente compreensível e fácil de acompanhar, permitindo que nos familiarizemos do mistério que envolve o sumiço de Rachel e do sofrimento de sua família. Acompanhamos a luta para se descobrir o que aconteceu e os fatos que vão sendo lentamente revelados acerca da sua história, que nos mostram os delírios de uma pessoa infeliz e desequilibrada, cuja dificuldade em sair das grades que ela mesma criou a faz se voltar contra alguém inocente.

As primeiras cenas nos brindam com Rachel e seu namorado na aula de dança e depois fazendo amor. Logo em seguida, vemos seu pai a espera-la na estação de trem, sem que ela apareça. Como Rachel não costuma se atrasar, a família se preocupa e começa a procura-la. A mãe liga para o namorado e ele informa que Rachel havia dito que ia ver uma amiga e fazer um trabalho e ganhar dinheiro, sem ter revelado o nome da amiga nem a natureza do trabalho.

Desesperados, seus pais pedem ajuda à polícia, que age com indiferença e afirma que certamente a jovem fugiu de casa e que nada pode ser feito sem evidências concretas que apontem o caso como desaparecimento. Os pais não desistem e iniciam uma verdadeira campanha procurando por Rachel enquanto os dias vão passando sem que surjam pistas do que tenha acontecido.

Depois, o filme faz uma volta no tempo e somos levados a um importante fato acontecido há quatro anos atrás. Neste momento, nós nos deparamos com uma jovem escrevendo uma carta para o pai. Esta jovem é Caroline Reed, de 15 anos, que escreve que é infeliz, quer deixar a escola porque sofre bullying e se sente gorda e feia. Os pais de Caroline estão se divorciando e sua mãe é amiga da de Rachel. Enquanto Caroline escreve, sua mãe desabafa sobre o sofrimento do processo de divórcio e as dificuldades que tem para lidar com a problemática Caroline, que está trabalhando como babá da irmã mais nova de Rachel. Chega um momento em que Rachel começa a dançar para todos na sala e Caroline então se deslumbra com sua beleza e graça. Para ela, Rachel simboliza a perfeição, tudo que ela queria ser.

Então, o filme volta para o presente, um pouco antes do desaparecimento de Rachel. Vemos uma Catherine de 19 anos, que está morando sozinha e continua com os mesmos problemas: ainda se acha feia e repugnante, acreditando que ninguém a ama e chegando a sentir ódio de si mesma. Ela então vê Rachel com o namorado e vai sendo possuída por uma inveja doentia. Sua mente começa a formular um plano: atrair Rachel. Para ter êxito, ela decide dizer à inocente jovem que quer fazer uma pesquisa de mercado para a empresa do seu pai, na qual trabalha. Rachel vai ao seu apartamento, acreditando que ganhará dinheiro e roupas novas. Entretanto, os planos de Caroline são mais sombrios. Ela se aproveita de um momento no qual Rachel está distraída e a estrangula até à morte. Não satisfeita, apunhala seu lindo rosto para deformá-lo.

Após consumar o crime, ela entra numa espécie de delírio eufórico, imaginando que não é mais Caroline, mas outra pessoa. Assistindo às notícias sobre Rachel, cujo corpo escondeu na banheira, ela chega a ligar para a casa dos Barber, os quais não desistiram de procurar a filha. Nesta cena, Caroline diz que sente muito, chocando-nos com sua frieza e personalidade anormal.

Enquanto acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos, vamos nos perguntando qual será o fim desta perturbadora história, comovendo-nos com a luta dos pais de Rachel. Paradoxalmente, também sentimos uma certa pena de Caroline, que está aprisionada em seus medos e inseguranças gerados por seus sentimentos de inadequação e se sente incapaz de encontrar dentro de si mesma um caminho para se aceitar e encontrar seu caminho para a felicidade.

Guy Pearce e Miranda Otto têm excelentes desempenhos como os pais de Rachel, mostrando-nos bem sua angústia e impotência diante das faltas de notícia, da possibilidade de que algo horrível tenha acontecido e da indiferença das autoridades. Ruth Bradley, que interpreta Caroline, brinda-nos com uma bela atuação. Com um simples olhar, ela passa a essência da personalidade obcecada, invejosa e perturbada de Caroline. Também não podemos deixar de citar Sam Neill, que representa o pai de Caroline , um homem que se vê horrorizado ao ter de admitir que sua filha problemática pode ser uma assassina.

No fim, concluímos que A Vítima Perfeita é uma amostra de como uma pessoa atormentada é capaz de cometer atos monstruosos e insanos que podem prejudicar várias vidas de forma indelével.