Carlitos marinheiro, resenha

CARLITOS MARINHEIRO (RESENHA)
Miguel Carqueija

O título original é “Shangaied” (mais ou menos “raptado” ou “engajado”). Trata-se de uma comédia de média-metragem (30 minutos) muda e em preto-e-branco, produzida por Jess Robbins na empresa norte-americana Essanay e com direção e roteiro de Charlie Chaplin, também o ator principal, dividindo o estrelado com a musa do estúdio, Edna Purviance. Naqueles tempos era comum que os protagonistas principais aparecessem com os mesmos nomes na pele de seus personagens. Por isso, além de Chaplin ser Charlie mesmo (ou Charles, ou Carlitos como ficou conhecido no Brasil), Edna Purviance é a Edna.
Apesar de colocar seu estilo já bem pronunciado na obra, Chaplin ainda está muito no pastelão absoluto, com os personagens se agredindo fisicamente a toda hora, ou atirando coisas uns nos outros ou provocando desastres. As cenas da cozinha e da refeição podem ser consideradas meio nojentas. Quanto ao argumento, mistura o romance proibido de Carlitos com a filha do dono do barco com duas irregularidades: o embarque de marinheiros pela violência (coisa em voga naqueles tempos, a fita é de 1915) e o seu afundamento por obra do próprio dono, para saldar dívidas mediante o seguro. Wesley Ruggles personifica o dono do barco; outros nomes do elenco são Bud Jamison, Billy Armstrong e Paddy McGuire.
Não é das melhores obras de Chaplin, que ainda estava aperfeiçoando sua arte extraordinária, que o firmou como um dos maiores comediantes de todos os tempos. Mas é preciso notar que os primeiros filmes com Chaplin datam de 1914 e que em 1915 ele estava com pouco mais de 25 anos embora na tela, com sua caracterização, parecesse mais velho.
A cópia que eu pude assistir, numa edição em DVD com mais três títulos, está bem estragada, aparentando cor sépia. É claro que com a preservação por meios eletrônicos não haverá progressão do estrago, felizmente.
Rio de Janeiro, 22 de março de 2018.