O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener – Fernando Meirelles – 2005)
Ao longo de toda sua projeção O Jardineiro Fiel, além de ser um filme denúncia, é um ótimo filme sobre o amor, aquele que permanece aceso mesmo depois que perdemos a fonte. É também um filme sobre o arrependimento, esse de não ter aproveitado, confiado e desfrutado de tudo que se podia enquanto se tinha tudo.
A direção do filme mostra uma solidez em todos os seus pontos e constrói sabiamente todo o clima que vai envolver o espectador. Aliado a solidez do personagem principal vamos descobrindo na mesma medida em que Justin (Ralph Fiennes) descobre cada peça do quebra cabeças nós vamos descobrindo também, mérito do roteiro que deixa o espectador no mesmo pé em que está o personagem.
Todas as dúvidas e dores por que passa Justin são habilmente construídas pela incrível interpretação de Fiennes que mesmo interpretando um personagem que busca o autocontrole o tempo todo não consegue esconder aquelas pequenas expressões e trejeitos da pessoa desesperançada. O que contribui em grande parte para quando vemos seu retorno, agora com uma fotografia mais densa e pesada, ao local onde suas lembranças o levam, de uma época retratada com uma fotografia clara, limpa e leve, aqui nesse ponto quase etérea, e ali ele desaba como se fosse impossível resistir a tamanha dor, o que a pessoa que assiste de sua poltrona entra no sofrimento do personagem de forma a compartilhar a dor com ele.
É imperativo notar que todo o elenco secundário faz muito bem suas partes quando compõe personagens que se impõe na trama de forma automática sem que, contudo, pareçam forçados a estar ali por imposições de uma trama fraca. Já que somos apresentados a um sem numero de coadjuvantes que vão construindo o clima de tensão, de perseguição e ameaça extremamente importantes para que o filme não perca sua densidade, como acontece em filmes quando temos a certeza de que tudo vai ficar bem no final.
Ao mesmo tempo que vemos o sofrimento do personagem, que tenta se reerguer e buscar informações vemos conjuntamente o sofrimento da região retratada. Retratada de forma mais impactante possível, e aqui sem recursos apelativos, pois a situação da região africana já é por si só apelativa à nossa sensibilidade humana, esse quadro de miséria e inoperância que vemos contribui grandemente para que ao final da projeção a mensagem tenha sido dada ao mesmo tempo que choramos pelo amor que está ali despedaçado diante de nossos olhos.
Incrivelmente angustiante e triste é esse novo exemplar de Fernando Meirelles que faz bonito em sua estréia pela terra do tio sam, e não me surpreenderia nada se indicações ao Oscar fluíssem para essa obra.